domingo, 25 de março de 2012

Ética - Educando a Mente e o Coração

Conferência de Sua Santidade o Dalai Lama em Nova Delhi, 22 de março de 2012


Jovens e velhos irmãos e irmãs. Estou de fato muito feliz por mais uma vez estar com muitos alunos e talvez professores e mestres. É realmente uma grande honra.
Como já foi explicado, meu principal compromisso é a promoção dos valores humanos. Em segundo lugar, meu compromisso é a  promoção da harmonia religiosa. Essas duas coisas estão muito presentes na tradição Indiana. Eu acho que o próprio conceito de ahimsa, não violência, é o respeito à vida, respeito à existência. Todo fenômeno, todo tipo de coisa que tem vida, tem o direito de existir. Então prejudicar suas vidas, prejudicar suas existências, destruir o direito de existir é violência. Conter prejuízos à vida é não-violência. A não-violência a partir do medo não é não-violência. Não-violência é, ter oportunidade de lutar ou cometer algum ato violento mas deliberadamente refrear, conter o uso da violência. Isso é não-violência. Então, a não-violência está muito relacionado a respeitar o direito dos outros num nível mental (apontando para o coração). Portanto, no nível mental, a semente da não-violência é o senso de preocupação com os outros seres, compaixão. A compaixão traduzida em ação é não-violência. Então não é suficiente simplesmente continuar dizendo “– Oh! Devemos seguir a não-violência!”, sem compreender todo o sistema. Cada ação humana, se tornará violenta ou violenta, na completa dependência do bom coração. Não está relacionada à inteligência. A inteligência também muitas vezes se torna muito violenta.
E então, a harmonia religiosa - esse conceito não-violento, de tolerância e respeito a diferentes visões filosóficas. No campo filosófico, sim, há muitos pontos a serem debatidos. Mas esse é um assunto diferente. Mas essas visões diferentes também foram criadas por seres humanos, uma variedade de grandes pensadores, eles criaram tipos diferentes de visão. E eles têm o direito de expressar suas próprias visões. E então, todas essas diferentes visões filosóficas supostamente foram criadas para beneficiar a humanidade. Nos últimos mil anos todas essas tradições realmente trouxeram imenso benefício à humanidade. Temos razões suficientes para respeitá-las. Com o respeito e a compreensão entre as religiões, e a real aprendizagem mútua, podemos desenvolver uma genuína harmonia entre as tradições religiosas.
Então estes são meus dois compromissos.E da responsabilidade política eu já abdiquei no ano passado. Não abdiquei apenas pessoalmente. Nos últimos 4 séculos, os Dalai Lamas se tornaram líderes políticos e espirituais do Tibete politicamente. Na verdade, o I, o II, o III e o IV Dalai Lama eram puramente líderes espirituais, não tinham poder político. Para o V Dalai Lama as circunstâncias eram de muita competição por poder político entre os grandes lamas. Eu acho que o V Dalai Lama fez uma boa coisa, unificando muitas partes do Tibete. E ele próprio adotava uma política não sectária. Bom! É claro que havia também algumas críticas. E então, o XIV Dalai Lama, voluntariamente, alegremente, orgulhosamente encerrou essa tradição. E agora um dos meus segredos: no ano passado, na noite do dia em que eu anunciei formalmente minha renúncia, meu sono foi muito incomum, sem nenhum sonho, um sono bastante saudável. Esse é uma indicação de que eu liberei algum senso de responsabilidade pesada. De fato eu voluntariamente, alegremente mudei isso. Inicialmente alguns tibetanos sentiram-se um pouco desconfortáveis, dentro e fora do Tibete. Então, em diversas ocasiões eu expliquei e por fim eles compreenderam. E agora, tenho apenas esses dois compromissos: promover os valores humanos e promover a harmonia religiosa.
Agora então é uma boa hora para a discussão. Os líderes aqui presentes expressaram o desejo de terem mais tempo para discussão.
O nosso trabalho, com o qual estamos completamente comprometidos é um tipo de trabalho muito sério. Com ele nós podemos potencialmente transformar o mundo. Eu tenho sempre dito às pessoas que o século XX foi maravilhoso, o mais importante em toda a história da humanidade. Mas infelizmente, apesar de todo o ostensivo desenvolvimento, o século XX se tornou o século da violência, da violação. Até mesmo a energia nuclear foi usada contra seres humanos em Hiroshima e Nagasaki. Eu tive a oportunidade de visitar Hiroshima e Nagasaki e conheci algumas vítimas da bomba nuclear. Muito triste. O efeito permanece por muitos anos. Não houve apenas uma imensa destruição em um único momento mas o efeito durará por um longo tempo. De acordo com a história do século XX, o número de pessoas mortas pela violência, pelas guerras foi de 200 milhões em consequência da guerra. Então eu frequentemente digo que, o início do século XXI tivemos alguns eventos tristes, aqui e ali, todos devido a negligência e a erros.  Eu acho que nenhuma pessoa sensível quer que o século XXI seja novamente um século de violência, ninguém se beneficia. E na maior parte dos casos, pessoas inocentes são as que mais sofrem. Há algum tempo atrás eu disse aos cientistas e também a tecnólogos que se houvesse uma bala que pudesse ser direcionada, não a pessoas comuns, mas diretamente aos que causam confusões, isso seria bom. A bala iria e atingiria os causadores de confusão que estão confortavelmente sentados em algum lugar. E as pessoas comuns não sofreriam. Mas esse não é o caso. Vejam a Síria e os eventos recentes no norte da África. E muitos outros lugares onde surge a violência, pessoas inocentes, crianças, mulheres, sofrem. E também os efeitos negativos imensos na questão ambiental. Também acho que o único propósito da produção de armas é matar. Se as armas não forem usadas para matar, muito dinheiro será desperdiçado. Economicamente, essas fábricas imensas que produzem essas armas são na verdade desperdício de dinheiro.
Eu sempre digo que antes de 1950, todas as nossas fronteiras eram muito pacíficas e por fim essa situação mudou. Muito dinheiro que o governo indiano arrecada em impostos tem que ser gasto para defender essa longa fronteira, áreas muito difíceis. Se essa quantia de dinheiro fosse utilizada em hospitais, escolas, muitas áreas poderiam progredir. E na China também. No ano passado e neste ano também, o orçamento para segurança interna foi maior que o orçamento da defesa exterior. O inimigo interno é maior que o inimigo externo. Se o inimigo interno puder ser contado nos dedos das mãos, não será necessário gastar tanto dinheiro. Eu acho que os regimes totalitários, o comunismo chinês, ainda acreditam que o poder é ter melhores armas Essa afirmação é míope. Durante a revolução, na guerra civil, na guerra contra o Japão, tal poder é importante. Mas durante um curto período de tempo. Mas por 60 anos, ainda manter esse tipo de política é ter uma mente muito estreita, uma visão muito estreita. É falta de conhecimento sobre a mente humana, sobre a natureza humana.
Vejam os Estados Unidos. Eu realmente respeito a América, admiro a América. Mas a política no Iraque, no Afeganistão? O objetivo é bom, modernizar é bom mas o método é violento. Então, todo tipo de método violento frequentemente tem consequências inesperadas. Métodos violentos são de fato não realísticos. No nível emocional, você pode obter alguma satisfação, mas com relação à realidade é um método equivocado.
O século XXI deverá ser o século da paz, da não-violência. Isto não significa que neste século não teremos nenhum problema. Não. Os problemas vão continuar ocorrendo. Haverá crises em algumas regiões, a população continua crescendo, acho até que os problemas podem crescer. Então como desenvolver um século pacífico? A cada vez que enfrentarmos um problema, devemos encontrar meios não-violentos de dialogar.
Eu acho que nós seres humanos em geral a cada vez que enfrentamos algum desacordo, algum problema, a primeira resposta que vem à mente, nossa emoção, é como resolver com base na força. Isso é um erro. Então, agora, desenvolver um século de paz está muito relacionado a desenvolver um século de compaixão, como eu mencionei anteriormente. A não-violência está absolutamente relacionada à mente compassiva. Nossa atitude, como eu disse, não é muito civilizada, nem mesmo dentro das nossas famílias; quase sempre acontecem demonstrações de força. Agora, para mudar isso, não será através da fé religiosa, nem através da intervenção da ONU, nem por resolução no nível nacional, não. É em cada indivíduo. No momento, até mesmo entre líderes religiosos existem pessoas não muito saudáveis. Então religião suja, política suja, economia suja... é assim. Muita exploração. Muita corrupção. E a desigualdade entre ricos e pobres aumentando. É vergonhoso que neste país, comparativamente uma nação voltada à religião, não muitos não hesitam em se envolver em corrupção. Considerando aquelas pessoas que oficialmente negam qualquer valor religioso, é compreensível. Mas uma nação que realmente crê em Deus, Shiva, ou o que seja, francamente falando, eu acho que muitas pessoas corruptas, incluindo pessoas muito influentes, pela manhã fazem preces de adoração, mas no dia-a-dia não hesitam frente à corrupção, em trapacear, em assediar. Vocês acham que essas pessoas são religiosas? Vocês deveriam responder sim ou não. [Platéia: "- não."]
Mas através de resoluções, de ordens não é possível resolver. Não podemos culpar essas pessoas. Elas cresceram em uma sociedade que não presta muita atenção princípios morais. A fé religiosa se tornou um instrumento de atitude autocentrada. Uma vez, há muitos anos atrás na Argentina, num encontro inter-religioso, um dos mais importantes cientistas, físico, mencionou que ele, como cientista, não deveria desenvolver apego ao seu campo científico. Eu compreendi que aquilo era realmente muito importante. E eu mesmo, budista, não deveria desenvolver apego ao budismo. Uma vez que o apego se desenvolve, sua atitude, seu pensamento se torna tendencioso. Uma mente tendenciosa nunca vê as outras coisas de modo objetivo. Acho que muitas pessoas religiosas têm demasiada fé, de forma tendenciosa e com muito apego. O apego vem da atitude autocentrada. "- Eu estou certo! Eles não!" Portanto, sempre faço essa distinção: a minha geração pertence ao século XX; esse século já se foi. Esses jovens aqui presentes, vocês são a geração do século XXI. Até hoje, apenas 10 anos deste novo século se passaram. Restam ainda cerca de 90 anos. Se vocês fizerem um esforço, com uma nova visão, holística, não apenas pensando na sua própria família, em sua própria nação, mas pensando em toda a humanidade, de forma global, vocês poderão contribuir significativamente na transformação da visão da humanidade. Uma vez que a nossa atitude básica tenha mudado de maneira positiva, sendo mais compassiva, respeitando os direitos e a visão dos outros, tentando resolver cada vez problema que surgir através do diálogo, então poderemos construir um mundo pacífico, um século pacífico. Vocês têm uma oportunidade muito boa de mudar o mundo, de construir um mundo saudável. Eu não verei esse resultado. Mas estarei observando vocês, do inferno ou do céu, para ver se vocês irão implementar isso ou não! Culpar os outros ou reclamar não é suficiente. Vocês precisam fazer esforços para que o nível fundamental, que a forma de pensar se transforme. Não através de orações, não através da meditação, não através da sua prática de yoga, mas usando o bom senso, pela consciência plena da realidade.
Nosso último encontro com os cientistas tinha como tema "corpo saudável, mente saudável". Isso é muito claro. Ter um corpo saudável e uma mente saudável é muito relevante. É impossível desenvolver um corpo saudável com uma mente perturbada, tomando um tranquilizante ou qualquer droga diariamente. Vejam esses artistas que todos admiram; e então vemos nos noticiários que usam muitas drogas. Suas mentes não devem estar muito calmas. A tranquilidade mental que depende de comprimidos, de drogas de álcool, ou de boas músicas, ou de um bom programa de TV, utiliza um método muito provisório. Porque os verdadeiros destruidores da calma mental não são externos mas estão dentro da nossa própria mente. Então, a menos que nós descubramos esses destruidores da paz interior e possamos nos contrapor a eles, nós não conseguiremos desenvolver uma mente pacífica, uma mente tranquila. Vendo algo bonito, ouvindo uma boa música... enquanto isso estiver disponível, você obtém algum tipo de satisfação. Assim que isso desaparecer, a satisfação acaba também. A paz interior, a serenidade que surge a partir da consciência, esse tipo de paz mental permanece sempre, inclusive nos seus sonhos. Nós temos esse potencial! Tudo que temos que fazer é utilizar esse potencial. Essa é a questão.
Agora vamos falar de educação. Da mesma forma que desenvolvemos um corpo saudável através da higiene, exercícios físicos e algumas informações, precisamos desenvolver uma mente saudável através da educação, através da consciência. Podemos desenvolver uma melhor consciência. Uma vez que temos inteligência, podemos considerar prós e contras e ter, claro que podemos utilizar nossa inteligência de forma positiva, voluntariamente, sem ordens externas. É possível transformar nossas mentes através da consciência, não através de orações, de fé. Através da consciência, da própria natureza da mente e das emoções, através da educação. Eu acho isso bem possível. Portanto façam esforços, em trabalhos de pesquisa, para compreender melhor como educar, desde o jardim da infância até a universidade. Não através de coisas secretas, mas simplesmente pela educação, pelo conhecimento.
Então, em primeiro lugar, é extremamente importante saber mais sobre o processo da mente, das emoções, como se fosse um mapa. Quando viajamos para países estrangeiros, primeiro temos que conhecer os mapas, saber por onde ir até chegar ao destino final. Da mesma forma, é preciso o conhecimento completo do mapa da mente, de tudo que destrói a calma mental, quais são as emoções destruidoras, identificar essas emoções e então entender como podemos enfrentá-las. Todo tido de mudança nunca ocorre de forma independente, sempre há causas e condições. Para enfrentá-las, como no caso das doenças, é preciso lidar com as causas; tranquilizantes e analgésicos são temporários. Dores são sintomas; temos que lidar com as causas daquela dor. Da mesma forma, a perturbação da nossa paz interior é também um sintoma, que deriva de emoções prévias. A forma adequada de enfrentar essas emoções destrutivas é lidar com as causas e condições. Portanto é absolutamente necessário conhecer o mapa completo ou o processo das emoções. As informações podem vir de muitos textos, incluindo os textos budistas. No hinduísmo também estão presentes as práticas de samadhi, vipashyana, também explicam a mente. Temos que coletar essas informações dessas fontes, mas que devem ser consideradas um assunto acadêmico, são universais, é simplesmente a ciência da mente. Não importa se há fé ou não.
[Sua Santidade avistou um amigo de Taiwan e passou alguns minutos cumprimentando-o e contando passagens sobre ele. Depois se desculpou por, no meio de uma fala tão séria, ter começado a brincar. Mas daí disse que suas falas são sempre muito informais, que ele nunca prepara nada. Que antigamente sim, preparava as conferências mas que agora não faz mais isso]
Agora chegou o momento de pensar seriamente, de fazer pesquisas, sobre como introduzir, como assunto acadêmico, esses princípios morais, desde o jardim da infância até o nível universitário.
Durante esta manhã eu também mencionei que a própria constituição da Índia tem fundamento secular, por ser multicultural, multirreligiosa. E o secularismo também envolve respeito à visão dos que não têm fé. Eu penso que transmitir os princípios morais seculares por meio da educação secular é bastante adequado a este país. Alguns dos meus amigos muçulmanos, cristãos, me disseram, quando uso o termo ética secular ou secularismo, que têm uma certa reserva, têm essa visão de que o secularismo é negativo com relação às religiões. Mas não é. O secularismo indiano significa respeito a todas as tradições, todas as religiões. E também, de acordo com alguns de meus amigos, o secularismo neste país respeita os direitos dos que não têm nenhuma fé. Isso é maravilhoso!
A conclusão é de que vocês já possuem essa tradição baseada em ahimsa, harmonia religiosa; agora adicionalmente é preciso promover com a lógica, com a razão, algum tipo de educação para impulsionar mais essas coisas. Assim, não apenas as pessoas deste país serão mais felizes, mas também, a Índia, por ser a democracia mais populosa do mundo, poderá ter um impacto significativo no nível mundial. Então, por favor, tenham maior autoconfiança. Tenham visão e façam mais esforços. Não sejam preguiçosos como eu. Esforcem-se! Há um ditado tibetano que diz: "falhar nove vezes, esforçar-se nove vezes." Se até pessoas que fazem coisas erradas, destrutivas se esforçam! Para construir um mundo mais saudável, um século saudável, precisamos fazer esforços sem descanso! Isso é muito importante.
E então, as questões ambientais, a desigualdade entre ricos e pobres, exploração, e, neste país, o sistema de castas, realmente criam muitos problemas, milhões de pessoas pobres. Se desenvolvermos a consciência, um senso de responsabilidade global, de "uma" humanidade - religião é secundária - de que basicamente nós somos seres humanos iguais, com os mesmos direitos, automaticamente todas essas negatividades se reduzirão.

 Tradução livre de Jeanne Pilli

 http://www.youtube.com/watch?v=vYtWli7_0Ps&feature=share

sexta-feira, 23 de março de 2012

ONU dá garantias do reconhecimento de que a situação no Tibete é muito sombria: Kalon Tripa

Dharamshala: Kalon Tripa Dr Lobsang Sangay disse que garantia dada pela ONU aos três grevistas tibetanos de enviar relatores especiais para verificar a situação no Tibete é um reconhecimento "de uma situação muito sombria no Tibete, e um sinal de apoio para a causa tibetana justa e verdadeira".

Durante uma conferência de imprensa conjunta do Parlamento tibetano e do Kashag hoje, Kalon Tripa disse: "O que ouvimos em resposta aos três grevistas em frente das Nações Unidas, após 30 dias de grande sacrifício por parte deles, foi a visita de um funcionário das Nações Unidas aos três grevistas. Ele assegurou, tanto verbalmente como por escrito, que as Nações Unidas vão tentar enviar um relator especial para investigar a situação real no Tibete, o que pensamos ser o reconhecimento de uma situação muitosombria  no Tibete. "

"E também, a partir de notícias que temos lido, o embaixador australiano na China solicitou o ao ministério chinês das Relações Exteriores que o permita a visitar o Tibete para avaliar a situação", disse Kalon Tripa.

"Esses dois eventos, embora não na medida em que gostaríamos de ver, em muitos aspectos, são uma indicação de que a verdade será ouvida, a verdade vai ser apoiada, e espero que a verdade prevaleça. A verdade é que os tibetanos merecem a sua liberdade básica, e Sua Santidade o Dalai Lama merece regressar ao seu lugar de direito no palácio Potala em Lhasa, a capital do Tibete ", disse Kalon Tripa.
 
 
Kalon Tripa disse: "repetidos apelos foram feitos pelo Parlamento tibetano, o Kashag, e muitas ONGs, incluindo tibetanos, à Organização das Nações Unidas para enviar um relator especial ou um enviado ao Tibet para investigar as condições reais no Tibete." 

O Presidente do Parlamento tibetano no exílio, o Sr. Penpa Tsering, lê a resolução de 8 pontos aprovada por unanimidade durante o dia de abertura da sessão parlamentar em curso em 14 de março. A resolução reafirma a "solidariedade dos exilados tibetanos com os tibetanos dentro do Tibete, pede que o governo chinês suspenda as políticas equivocadas no Tibete, e apela à comunidade internacional para enviar delegações de averiguação para avaliar a realidade no Tibete. 

Kalon Tripa enfatizou o apoio firme do Kashag à Resolução do Parlamento, que segundo ele deixa muito claro que os tibetanos dentro do Tibete estão em condição muito crítica. 30 tibetanos se auto-imolaram, dos quais 22 morreram e muitos estão em condições graves, acrescentou.

"As razões são muito claras. As auto-imolações e os pacíficos manifestantes tibetanos estão mostrando o ressentimento contra a ocupação do Tibete e as políticas repressivas do governo chinês. O que os auto-imoladores,aqueles que morreram e aqueles que estão nas prisões estão exigindo é que Sua Santidade o Dalai Lama retorne ao Tibete, que a liberdade para os tibetanos dentro do Tibete seja restaurada", acrescentou Kalon Tripa .
 
 Tradução livre de Jeanne Pilli


http://tibet.net/2012/03/23/un-assurance-acknowlegdment-of-grim-situation-in-tibet-kalon-tripa/

quinta-feira, 8 de março de 2012

Perder o Tibete para sempre

O aniversário da Revolta de 10 de março de 1959 no Tibete e da fuga para o exílio do Dalai Lama acontece em um momento de aprofundamento da crise. Desde fevereiro de 2009, pelo menos 27 tibetanos, incluindo muitos monges, incendiaram-se numa sequência sem precedentes na sociedade tibetana. A liderança chinesa falhou na avaliação da extensão da mundaça que ocorreu na natureza da luta tibetana. Como resultado, a China corre o risco de perder o Tibete.

Quando vi pela primeira vez imagens de um monge de pé em chamas como uma coluna de fogo, eu experimentei uma mistura de emoções. Por um lado eu não podia deixar de admirar a coragem do monge e, como um ex-monge, também me senti instintivamente identificado e solidário.

Embora o primeiro caso tenha ocorrido no Tibete em 2009, a auto-imolação generalizou-se apenas após a morte de Phuntsog, monge de 21 anos, no mosteiro de Kirti Ngaba em março do ano passado. Só este ano ocorreram 14 casos conhecidos. Eles têm sido realizados principalmente por monges mais jovens ou ex-monges com cerca de vinte anos; mas um lama reencarnado em seus quarenta anos ateou fogo a si mesmo em 8 de janeiro, e houve também uma auto-imolação de um funcionário monástico.

Esta forma de protesto e de sacrifício, emergindo da angústia da opressão, é dramático, poderoso e desestabilizador, e não envolve a morte de terceiros. Ainda não há homens-bomba tibetanos, graças à ênfase do Dalai Lama sobre a não-violência e os preceitos de compaixão da cultura tibetana.

Até agora, a resposta de Pequim tem sido simples: censurar as notícias, rotular os manifestantes de terroristas, colocar a culpa em forças externas e usar excessivamente as forças de segurança. Isto é quase exatamente o mesmo script do malfadado regime Kadafi e atualmente em uso na Síria por Bashar al-Assad.

A liderança do Partido Comunista não está explorando as causas dessa nova radicalização em uma sociedade profundamente religiosa. Os tibetanos têm vivenciado um duro ataque à sequência de protestos que varreu o planalto em 2008, a animosidade racial contra os tibetanos étnicos e a demonização sistemática de seu amado Dalai Lama. Nos mosteiros, os monges têm sido objeto de implacáveis sessões ​​de "educação patriótica" e levados ao desespero pela presença de tropas armadas até mesmo dentro de suas instituições religiosas. Todos esses fatores levaram a uma maior agitação.

Enquanto isso, há um crescente reconhecimento entre os tibetanos de que Pequim não tem a imaginação e vontade política para resolver a questão do Tibete. Houve uma total incapacidade de se engajarem construtivamente com o Dalai Lama apesar de suas concessões e numerosas oportunidades durante mais de três décadas.

Isto tornou-se especialmente evidente quando o Partido não conseguiu uma resposta à decisão do Dalai Lama de deixar o cargo de líder político dos tibetanos. Pequim não percebeu que a luta atual seguiu, mesmo depois de o Dalai Lama ter deixado o cargo de líder político dos tibetanos. Isso significa que os tibetanos agora imaginam que sua luta seguirá para além da vida do Dalai Lama, e não necessariamente de acordo com o atual modelo.

As falhas de Pequim possivelmente abriram o caminho para um tom muito mais agressivo na campanha dos tibetanos por suas legítimas aspirações. Pode haver uma ligação entre os atuais protestos mais radicais e esta mudança na liderança política. Quando a luta pela liberdade do Tibete era liderada pelo Dalai Lama, havia certas normas que até mesmo os
tibetanos mais críticos da China implicitamente respeitavam, tentando evitar embaraçar Pequim publicamente. Isso não pode mais ser garantido.

Inconscientemente, então, o Partido tem tido mais sucesso do que o governo tibetano no exílio jamais teve na criação de um senso unido forte da identidade nacional em todo o planalto tibetano. Se o atual impasse continuar, os tibetanos poderão se tornar mais ousados e exigir independência total. Nós também poderemos ver a atual onda de auto-imolação se espalhando para outras partes do Tibete. Nenhum regime pode ter uma arma eficaz contra pessoas que não têm medo de morrer.

Pequim precisa encontrar maneiras de convencer o povo tibetano de que se preocupa com a sobrevivência de sua língua, cultura e fé budista únicas dentro da grande família da República Popular da China. A concentração maciça de tropas e o clima de terror tornarão os tibetanos mais alienados e podem levar a mais perdas de vidas. A nomeação de um funcionário mais linha-dura do partido para reprimir os protestos não é a resposta. Aceitar a mão estendida do Dalai Lama para ajudar a buscar uma solução mutuamente aceitável a longo prazo para o problema tibetano é claramente o primeiro e mais urgente passo adiante.

Não há dúvida em minha mente de que 2011 foi um ano divisor de águas na luta do povo tibetano, e que com a campanha em curso de auto-imolação, esta luta atravessou um limiar importante. Se a liderança da China não conseguir aproveitar a estreita janela de oportunidade que ainda lhe resta, ele vai perder o Tibete para sempre.

Thupten Jinpa é professor adjunto da Universidade McGill, e
principal tradutor de Sua Santidade o Dalai Lama para o inglês.

Tradução livre de Jeanne Pilli

http://online.wsj.com/article/SB10001424052970204603004577267030304321516.html?mod=googlenews_wsj

sexta-feira, 2 de março de 2012

Questão Tibetana é levantada na sessão de Direitos Humanos da ONU

Dharamshala, 2 de março: os países membros levantaram a atual situação no Tibete na 19ª Sessão Conselho de Direitos Humanos da ONU, em curso em Genebra.

Maria Otero, Subsecretária de Estado da Segurança Civil, Democracia e Direitos Humanos dos EUA  expressou hoje
em seu discurso a "preocupação" do governo dos EUA com a atual situação no Tibete.

"Os Estados Unidos continuam seriamente preocupados com a recente violência e as tensões contínuas em áreas tibetanas da China. Apelamos a todos os governos, incluindo a China, a respeitarem as liberdades fundamentais de religião e de expressão de todos os seus cidadãos, incluindo membros de minorias étnicas", disse Otero.

Na quarta-feira, o Vice-Primeiro-Ministro tcheco e Ministro das Relações Exteriores manifestou "grave inquietude" com a atual situação no Tibete, em uma declaração feita durante as sessões de Segmento de Alto Nível.

"Com o
grave mal-estar, seguimos a escalada contínua de tensões em áreas tibetanas da China como evidenciado por uma série de auto-imolações. No ano passado, 22 tibetanos decidiram agir de forma trágica, a fim de despertar o "establishment" e atrair nossa atenção ", disse Karel Schwarzenberg.

A sessão, que contou com diplomatas e funcionários governamentais de 70 países, concentrou a maioria de seu tempo e energia sobre o conflito armado na Síria, entre as forças governamentais e os rebeldes.

A sessão aprovou uma resolução "condenando veementemente as contínuas violações generalizadas e sistemáticas dos direitos humanos e direitos fundamentais por parte das autoridades sírias" e "lamentou as ações brutais do regime sírio nos últimos 11 meses."

Em 4 de fevereiro, a China, juntamente com a Rússia, votou contra uma resolução da Conselho de Segurança da ONU que exigia que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, interrompesse a repressão implacável de dissidentes, e iniciasse uma transição para a democracia.

Poucas semanas depois do apoio tácito dos dois poderes de veto da ONU, o número de mortos estimado na Síria subiu de 5.400 para mais de 7.500.

O Conselho Nacional
Sírio, o maior grupo de oposição, disse que a Rússia e China eram "responsáveis ​​pelos atos crescentes de mortes", chamando o veto de "um passo irresponsável que equivale a uma licença para matar com impunidade".

Mais cedo, o secretário-geral do CDH da ONU concordou em publicar e divulgar uma declaração escrita sobre a discriminação que está sendo enfrentada pelos tibetanos dentro do Tibete e o fracasso da China a respeitar a "Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial", da qual é parte.

A declaração apresentada por uma ONG com base na França, o "Mouvement contre le racisme et pour l'amitié Entre les peuples (MRAP)", será disponibilizado a todos os delegados da 19 ª Sessão do CDH.

A declaração discute em detalhe a crescente discriminação contra os tibetanos no Tibete como evidenciada nas políticas e leis chinesas para áreas tibetanas autônomas, as práticas discriminatórias de aplicação da lei, a discriminação com base na crença religiosa e a discriminação através do desenvolvimento econômico.

"Retórica
e práticas discriminatórias chinesas contra o povo tibetano têm-se intensificado, e os tibetanos seguem em sua demanda por direitos humanos e liberdades fundamentais", disse a declaração do MRAP .

A 19ª sessão do CDH segue até 23 de março.

Tradução livre de Jeanne Pilli

http://www.phayul.com/news/article.aspx?id=30996&article=UN+human+rights+session+raises+Tibet&t=1&c=1