segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Escritores Tibetanos presos na China

Nova York, 31 Outubro 2011 - O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) denuncia a prisão de dois escritores tibetanos, um deles sentenciado após um ano de detenção sem julgamento, de acordo com relatos.


Uma corte em Aba, província de Sichuan, sentenciou o escritor e editor tibetano Jolep Dawa a três anos de prisão por acusações não reveladas, de acordo com a  Radio Free Asia e a Tibetan Centre for Human Rights and Democracy. Ele foi preso em 1 de outubro de 2010, e detido por um ano antes do julgamento, dizem os relatos. Jolep Dawa, que é também professor, editava a revista mensal em tibetano, Durab Kyi Nga, de acordo com a emissora e grupos de defesa.

Em um caso separado, oficiais de segurança prenderam o escritor Choepa Lugyal, que escrevia com o nome Meycheh, em sua casa na província Gansu em 19 de outubro, de acordo com o blogger tibetano em Pequim Woeser e o Tibetan Centre. Woeser é um respeitado comentador sobre assuntos tibetanos que também tem sido alvo de perseguição por relatos sobre o que acontece na região. Choepa Lugual trabalhava para uma editora em Gansu, e escreveu vários artigos impressos e online, incluindo a revista atualmente banida Shar Dungri

Notícias da Região Autônoma do Tibete são fortemente controladas e informações sobre prisões e julgamentos levam meses para emergir.


"As prisões de Jolep Dawa e Choepa Lugyal são profundamente perturbadoras, bem como a falta de transparência nesses casos", disse Bob Dietz, coordenador do programa CPJ Asia. "As autoridades chinesas aprisionaram mais de uma centena de jornalistas de etnia minoritária nos últimos três anos, com muitos julgamentos realizados a portas fechadas".

Shar Dungri foi publicada na sequência de conflitos étnicos entre tibetanos e chineses Han em 2008. Seu editor, Tashi Rabten, foi sentenciado a 4 anos de prisão sob acusações desconhecidas em julho, após detenção por um ano. Três dos freelancers da revista, Buddha, Jangtse Donkho e Kalsang Jinpa, foram sentenciados acusados de separatismo a quatro anos, quatro anos e três anos de prisão respectivamente, em 30 de dezembro de 2010, de acordo com a Radio Free Asia. A CPJ não pode confirmar independentemente essas sentenças.

Desde 2008, surgiu um padrão de prisões de jornalistas de etnias minoritárias, no imprisoned census do CPJ em 2009 e 2010. Vários jornalistas foram também aprisionados na Região Autônoma Xinjiang Uighur, o local de conflitos étnicos em 2009. O gerente do website Uighur website, Tursunjan Hezim foi sentenciado a sete anos de prisão por acusações desconhecidas em março, após discutir o conflito online.

http://www.cpj.org/2011/10/tibetan-writers-imprisoned-in-china.php




Parlamentares alemães instam a chanceler Merkel a levantar a questão tibetana durante a Reunião do G20

31 de outubro de 2011
Gênova: Três parlamentares alemães do Grupo de Discussão sobre o Tibete do Parlamento Alemão, instaram a chanceler Angela Merkel em uma carta aberta a "advogar por um fim imediato à violência chinesa sobre o povo tibetano, em conversações com as lideranças chinesas, durante a próxima reunião do G20 em Cannes".

A carta também dizia: "Esperamos que a Sra use a cúpula do G20 para chamar o governo chinês a responder às demandas legítimas do povo tibetano, com um diálogo significativo em lugar da força".

A carta datada de 21 de outubro por Sabine Weiss, Herald Leibrecht e Sabine Bätzing-Lichtenthäler dizia "a situação dentro do Tibete está se intensificando a passos dramáticos". Os dois primeiros parlamentares são membros dos partidos pertencentes à coalizão governante na Alemanha.
"As recentes auto-imolações de oito monges e uma monja se somam a uma atmosfera perigosa e possivelmente explosiva. Em uma massiva exibição de força, o governo chinês tem destacado mais policiais e militares para reprimir brutalmente todas as formas de resistência. Inclusive pequenos atos de desobediência conduzem a prisões e torturas", dizia a carta.
Eles informaram à chanceler alemã que os familiares das pessoas detidas são por anos deixadas sem informações sobre o paradeiros de seus entes queridos.
Salientaram que os monges e as monjas de vários monastérios no Tibete têm sido os mais afetados. 

"O povo tibetano está sofrendo e vivendo com um sentimento de genocídio cultural e religioso", acrescentava a carta.

Eles isntaram a chanceler alemã a usar sua influência para que sejam respeitados os direitos humanos básicos do povo tibetano, consagrados na constituição chinesa.

Os parlamentares aplaudiram a chanceler por reunir-se com Sua Santidade na chancelaria e disseram "você deu um exemplo brilhante".

"Mas o povo tibetano necessita de mais apoio político, especialmente da Europa. Nós não deveríamos transmitir a impressão de que os direitos humanos estão sendo negociados por sucesso econômico e relações comerciais".

Em um vídeo disponibilizado no youtube, Herald Leibrecht pede que um grupo internacional investigue a situação no local. 
"Um grupo que investigue como se deram essas auto-imolações e que tipo de ações políticas são necessárias para que tornem a ocorrer no futuro", disse.

Milhares de japoneses se reunem em Osaka para escutar Sua Santidade o Dalai Lama

 30 de outubro de 2011, OSAKA, Japão: mais de 5.000 japoneses e cerca de 400 coreanos se reuniram em um estádio em Osaka para escutar Sua Santidade o Dalai Lama, que iniciou os ensinamentos públicos hoje.
 
"Estou muito feliz de estar aqui no Japão e encontrar meus amigos espirituais" disse Sua Santidade o Dalai Lama, depois de ser saudado no palco com um estrondoso aplauso da audiência.
 
Começou seu primeiro dia do programa com ensinamentos sobre "O Sutra do Coração: da Compaixão à Vacuidade", no qual Sua Santidade disse que a mente pacificada é a chave para fazermos deste século um século de paz.
 
"A paz da mente pode ser desenvolvida através da compaixão e da motivação para contribuir com o bem-estar de outros" disse, enquanto os membros da audiência escutavam encantados. Ele disse que se sente inspirado a falar quando a audiência escuta com atenção.
 
Ele disse que apenas o progresso material não é capaz de levar paz e felicidades duradouras a este mundo. "O século XX que trouxe um tremendo progresso tecnológico e conforto físico, também viu uma destruição inimaginável e a morte de mais de 200 milhões de pessoas devido à violência. O povo japonês também experimentou esse sofrimento depois das bombas de Hiroshima e Nagasaki durante a 2a Guerra Mundial", acrescentou.

"Por isso, nas últimas décadas do século, tem havido um crescente interesse em deenvolver-se  a paz mental. O estudo científico do cérebro e da mente para entender as emoções humanas tem ganhado espaço desde então" disse. 
 
"É muito importante seguir e preservar sua religião original, e ao mesmo tempo respeitar as crenças dos outros. É igualmente muito importante que a pessoa possa entender o significado da religião", acrescentou.

Mais à tarde, Sua Santidade realizou uma palestra pública no mesmo local sobre a força para superar as dificuldades da vida.

Falando para a TV Tibetonline sobre os detalhes dessa visita, Lhakpa Tshoko, o representante do Dalai Lama para Leste da Ásia e Japão, disse: "O interesse pelos ensinamentos de Sua Santidade o Dalai Lama durante suas visitas ao povo japonês, incluindo os jovens e intelectuais, está crescendo".
 
"O reitor da Universidade de Koyasan, que é uma das organizadoras da visita, falou a Sua Santidade sobre o crescente interesse em estudar budismo nas universidades japonesas", acrescentou Tshoko. 
 
Além disso falou: "A visita de Sua Santidade de 28 a 29 de abril deste ano, para oferecer orações ao povo japonês, trouxe um significativo conforto para todos os afetados pela destruição provocada pelo tsunami e pelo terremoto. Esperamos que esta visita de Sua Santidade com as pessoas afetadas seja de imenso benefício para eles".

Ele disse que o povo do Japão tem expressado um profundo apreço por Sua Santidade o Dalai Lama em suas visitas ao país em todos esses anos.
 

domingo, 30 de outubro de 2011

Dalai Lama pede transformação social através da ética secular

His Holiness the Dalai Lama uses a fan while giving a public talk on overcoming life's difficulties in Osaka, Japan on October 30, 2011. (Photo/OHHDL/Tenzin Choejor)
Dalai Lama usa um leque na palestra pública sobre "Superação das dificuldades da vida" (Photo/OHHDL/Tenzin Choejor)
OSAKA, 30 de outubro: Em um dia chuvoso em  Osaka, o Dalai Lama visivelmente relaxado compartilha suas idéias sobre superação das dificuldades da vida com uma audiência de mais de 5.000 japoneses e coreanos na tarde de hoje.

Como um experimentado praticante médico, o líder espitirual tibetano procurou imediatamente encontrar e tratar as causas das dificuldades da vida. 
 
"A falta de ética, de princípios e de justiça é a raíz de nossos problemas", disse o Dalai Lama enquanto chamava a corrupção de "a nova epidemia mundial".
 
"Todos nós dizemos que relaxar e descansar é importante, mas com a mente cheia de emoções conflituosas, mesmo na mais confortável das cadeiras, você não consegue relaxar", disse o Dalai Lama.
 
Sublinhando o papel vital que treinar e transformar a mente tem para enfrentar e resolver dificuldades, Sua Santidade pediu por educação ética social nas escolas e na vida cotidiana.
 
"A transformação social através da educação ética secular é bem possível. Mudar o mundo com orações é difícil", disse o Dalai Lama sorrindo gentilmente.
 
Referindo-se  aos trabalhos de pesquisa que tem conduzido nos EUA, o prêmio Nobel da Paz de 76 anos de idade disse que os resultados iniciais de práticas de atenção plena e compaixão em escolas tem sido "encorajadores".
 
"Pesquisem sobre a mente e pesquisem sobre como incorporar ética social na educação", disse o Dalai Lama. "Pessoas interessadas deveriam investigar sobre como melhorar a atitude mental com relação a sí mesmo, a  outros e ao mundo."
 
Traçando paralelos entre os avanços na tecnologia e a necessidade por avanços da mente, o Dalai Lama assinalou que até mesmo as câmeras mais avançadas tecnologicamente não conseguem fotografar a mente humana.
 
"Pequenas transformações mentais, que não conseguimos ver, são muito importantes", aconselhou o Dalai Lama.
 
Atendendo a um pedido por visitas regulares por um japonês na platéia, o líder espiritual tibetano disse que está ansioso por manter discussões mais amplas com o público e com os cientistas no Japão.
 
O Dalai Lama está fazendo uma visita de 10 dias ao Japão e está programada uma visita a Koyasan amanhã para participar do 125o aniversário de fundação da Universidade de Koyasan.
 
http://www.phayul.com/news/article.aspx?id=30257article=The+Dalai+Lama+calls+for+social+transformation+through+secular+ethics


"Auto-imolação é sinal de desespero profundo" diz Dalai Lama

OSAKA, 29 de outubro: O líder espiritual tibetano Sua Santidade o Dalai Lama chegou ao Japão no início da manhã para uma visita de 10 dias e irá às áreas mais devastadas pelo tsunami que atingiu o país em março deste ano.

Ao chegar ao hotel, o Dalai Lama interagiu brevemente com repórteres japoneses. 

Em resposta a uma pergunta sobre a recente onda de auto-imolações no Tibet, o líder espiritual tibetano disse que os líderes chineses deveriam atentar às verdadeiras queixas do povo tibetano.

"Este incidente das crescentes auto-imolações no Tibete precisa ser estudado sob os pontos de vista filosófico, religioso e político. É um sinal de desespero profundo; os líderes chineses precisam analisar esses incidentes com mais seriedade. Apenas crueldade não será bom para todos."

Enquanto dizia ser "muito cedo" para esperar por uma "grande mudança" dos próximos líderes chineses, Sua Santidade disse que "harminia deve vir do coração".  

Referindo-se à massiva revolta no Tibete em 2008, seguida dos levantes de Uyghur em 2009 e os movimentos na Mongólia este ano, o Dalai Lama disse, "confiança e medo não podem andar juntos".

Saíndo de Tóquio, o líder tibetano de 76 anos de idade desembarcou em Osaka, a capital comercial do país à tarde. O Dalai Lama dará ensinamentos sobre o Sutra do Coração e também uma palestra pública sobre como superar dificuldades da vida, amanhã na Arena Osaka Maishima.

Durante a visita, Sua Santidade dará ensinamentos e palestras públicas, encontrará dirigentes religiosos e interagirá com cientistas.


http://www.phayul.com/news/article.aspx?id=30255&article=%E2%80%98Self-immolation+sign+of+deep+depression%E2%80%99+says+the+Dalai+Lama

sábado, 29 de outubro de 2011

Dalai Lama diz que a política da China é a causa das mortes por auto-imolação


TOQUIO - O líder budista exilado do Tibete, o Dalai Lama, assinalou o que ele chama de "poítica impiedosa" da China como sendo o que levou às recentes mortes de monges tibetanos que ateramo fogo a si próprios em protesto. O laureado com o Prêmio Nobel da Paz apelou a Pequim para que mude sua abordagem de governo na região dos Himalaias.

"Em seu próprio interesse, não apenas pelo interesse por certos tipos de problemas aqui e ali, mas pelo futuro do país como um todo, eles devem atuar com um tipo de política mais realista", disse o Dalai Lama a repórteres neste sábado em um hotel em Tóquio, durante visita às vítimas do tsunami de 11 de março no Japão.

Pelo menos 9 monges tibetanos com idade próxima aos 20 anos se auto-imolaram desde março em protesto ao governo chinês, e cinco deles morreram em decorrência dos ferimentos. Muitos tibetanos consideram o Dalai Lama como seu líder de direito.

O auto-declarado governo tibetano no exílio descreveu as auto-imolações  como atos trágicos e pediu que a comunidade internacional inste Pequim a abrir diálogo sobre suas políticas no Tibete e regiões tradicionalmente tibetanas na China ocidental.

"Na verdade, o líder local deve examinar as reais causas das mortes", disse o Dalai Lama sobre a China. "É o próprio tipo de política equivocada, política impiedosa, política ilógica". 

Pequim acusa o Dalai Lama de apoiar e encorajar as imolações.

O Dalai Lama fugiu da região dos Himalaias em 1959 em meio a uma revolta anti-Pequim abortada e é criticado pelo governo comunista da China.

 http://www.washingtonpost.com/world/asia-pacific/dalai-lama-says-china-policy-in-tibet-cause-of-self-immolation-deaths/2011/10/29/gIQAbExaRM_story.html

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Parlamento Europeu: Resoluções de Direitos Humanos


O Parlamento Europeu condena a contínua repressão chinesa sobre os monastérios tibetanos, exige a liberação dos ativistas de direitos humanos no Bahrein e solicita à Síria que liberte o psicanalista Rafah Nashed, nas resoluções de direitos humanos urgentes tomadas na quinta-feira, 27 de outubro.

Tibete:  Autoridades chinesas pressionadas a respeitar os direitos religiosos

Os Membros do Parlamento Europeu condenaram a repressão exercida pelo governo chinês sobre os monastérios budistas tibetanos em Ngaba, Sichuan, e em outas partes do planalto do Tibete, incluindo ataques brutais, detenções arbitrárias de monges, e presença policial permanente dentro dos monastérios. Ordenaram que as autoridades chinesas suspendam essas restrições e restabeleçam as linhas de comunicação com os monges no Monastério de Kirti.

O Parlamento está profundamente preocupado com os relatos, desde abril, sobre oito monges budistas tibetanos que atearam fogo a seus próprios corpos no Monastério de Kirti em Ngaba, na província de Sichuan.

"Os Membros do Parlamento Europeu exigem que as autoridades chinesas respeitem os direitos dos tibetanos em todas as províncias chinesas e tome medidas proativas para resolver as queixas subjacentes da população tibetana. As autoridades devem cessar as políticas que ameaçam a língua, a cultura, a herança e o meio ambente tibetanos, em contravenção à Constituição e às leis chinesas que garantem autonomia a minorias étnicas", diz a resolução.

O Parlamento conclama Catherine Ashton, Alta Representante de políticas estrageiras de direitos humanos a levantar as questões de direitos humanos na próxima reunião de cúpula EU-China, e solicita aos presidentes da Comissão Européia e Conselho Europeu a pressionarem a China a proteger a incomparável identidade religiosa, cultural e linguistica tibetana em seus discursos oficiais na reunião de cúpula, já que esta questão não deve estar na agenda.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tibete: China prende um importante jovem escritor


Meche, escritor jovem e destacado, analista político tibetano, foi detido em sua casa por autoridades na semana passada e levado a local não especificado, segundo uma fonte confiável dentro do Tibete. Choepa Lugyal, conhecido como Meche, foi preso no dia 19 de outubro quando estava com sua esposa em sua casa no condado de Yatsi, o que é conhecido hoje como província de Quinhai.

 

A fonte, que pediu anonimato disse que as autoridades não citaram nenhuma razão paar a súbita prisão; tomaram seu computador pessoal e uma cópia proibida do livro tibetano “Shar-dungri”  (A Montanha Nevada do Leste) de sua casa que foi completamente investigada e saqueada.

"Só ele mesmo sabe porque está sendo preso" reponderam de maneira cortante os oficiais do escritório de segurança à esposa do escritor, sem acrescentarem nada mais, quando mais tarde exigiu saber as razões da prisão.
 
Meche, que é conhecido por sua prolífica publicação e seus comentários políticos intuitivos, trabalha para a editora  Kansu People.

"As autoridades estão particularmente focadas em jovens intelectuais tibetanos e mantêm uma estreita vigilância sobre suas atividades", disse a fonte anônima.

Sobre a terra natal no exílio

Mulher tibetana oferecendo prostrações sobre as 20 ton de terra tibetana


DHARAMSHALA, 26 de Outubro: Um jovem artista tibetano contemporâneo tornou realidade o que muitos tibetanos no exílio sonharam por toda vida - colocar os pés sobre a terra natal.

Tenzing Rigdol, um artista que vive em Nova York transportou 20.000kg de terra do Tibete para o lugar de exílio em Dharamsala, norte da Índia e criou um trabalho artístico que verdadeiramente reflete seus valores morais e sua estética sutil.

Sob um brilhante céu de outubro, a terra do Tibete foi espalhada sobre um grande palco no espaço aberto da Vila Escolar das Crianças Tibetanas, em Dharamsala. Um retrato do Dalai Lama foi colocado no centro e a Bandeira Nacional Tibetana "banida do Tibete" foi hasteada no pequeno pedaço de terra do Tibete.

Inaugurando a instalação, intitulada "Nossa Terra, Nosso Povo", emocionado, o Kalon Tripa Dr Lobsang Sangay foi o primeiro a pisar na terra de seus pais e falou, num microfone montado sobre o palco, sobre o desejo de seu pai de retornar ao Tibete.

"Tem sido o sonho de muitos tibetanos retornar ao Tibete e colocar seus pés sobre solo tibetano. Muitos morreram sem realizar esse desejo. Hoje estou pisando sobre esta terra como um gesto que simboliza nosso esforço em nos reunirmos com nossos irmãos e irmãs no Tibete", disse Dr Sangay.

Pessoas idosas apoiadas em suas bengalas se ajoelhavam para tocar a testa sobre a terra e sentir os grãos em suas mãos, enquanto monges recitavam preces e jogavam punhados de terra para o céu como oferendas. 

O poder da arte transgressoa de Tenzing Rigdol, "Nossa Terra, Nosso Povo", seja melhor representada por um verdadeiro ato de desafio, quando um jovem tibetano se aproximou do microfone com um punhado de terra na mão e disse: "Lembrem-se! Esta terra carrega o sangue e o suor de milhares de nossos irmãos, que sacrificaram suas vidas pelo Tibete. Lutemos cada vez mais fortes pela independência do Tibete!"

http://www.phayul.com/news/article.aspx?id=30235&article=On+home+soil+in+exile#

Artista Tibetano instala 20 toneladas de Solo Tibetano em Exibição na India


Dharamsala – Hoje, quarta-feira 26 de Outubro, os tibetanos no exílio pisarão em solo tibetano. O importante artista tibetano, Tenzing Rigdol, transportou 20.000kg de terra do Tibet para Dharamsala, onde vive o Dalai Lama, o governo tibetano no exílio e mais de 10.000 refugiados tibetanos. A terra será espalhada num palco sobre o qual as pessoas serão convidadas a andar e sentar, bem como expressar seus sentimentos em um microfone. O projeto da instalação, intitulada "Nossa Terra, Nosso Povo", vem da inspiração e interpretação da bandeira nacional tibetana e da trágica história do Tibete.

Em 2007, o pai de Rigdol adoeceu enquanto morava como refugiado em Nova York. Seu único desejo, visitar uma vez o Tibete antes de morrer, não se realizou. Foi no último desejo de seu pai, exemplificando a esperança dos tibetanos no exílio de retornar ao seu país, que Rigdol encontrou inspiração para prosseguir em seu projeto. Através do trabalho de Rigdol, refugiados tibetanos que vivem em Dharamsala, separados de suas famílias e impedidos de voltar à sua terra natal, terão a chance de pisar em solo tibetano. Para alguns, será a primeira vez em mais de cinquenta anos; para muitos, nascidos no exílio, será a primeira vez em suas vidas.

Esta instalação inovadora será transmitida ao vivo em www.phayul.com e ficará aberta de 26 a 28 de outubro.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ONGs apelam ao Chefe dos Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Protestos de Auto-Imolação de Tibetanos

25 de Outubro, Amsterdam - Ontem, por ocasião do Dia das Nações Unidas, 27 ONGs de 17 países submeteram o seguinte apelo urgente ao Alto Comissário para Direitos Humanos das Nações Unidas solicitando intervenção junto às autoridades chinesas devido aos recentes protestos de auto-imolação em Tawo e Ngaba:


24 de Outubro de 2011

Vossa Excelência,

Nós, Organizações não-Governamentais (ONGs) abaixo-assinadas de diversas partes do mundo, solicitamos sua intervenção imediata junto às autoridades chinesas em vista das notícias alarmantes e perturbadoras provenientes do Tibete, sobre os trágicos protestos de auto-imolação de nove tibetanos em Tawo e Ngaba, especialmente monges e monjas, que resultou na morte de vários deles. Acreditamos que estes atos de desespero sejam resultados diretos da intensificação do controle e restrições à liberdade fundamental do Tibete exercidos pela China.

Por estarmos gravemente preocupados com esse desenrolar bem como com a deterioração geral da situação em relação aos direitos humanos enfrentada pelo povo tibetano, nós solicitamos particularmente ao Alto Comissário que intervenha apelando que as autoridades chinesas imediatamente:

  • Retirem militares e outros agentes armados do Monastério de Kirti, Ngaba, entreguem completamente a gestão cotidiana do monastério aos monges e permitam que se estabeleça uma atmosfera sem entraves às atividades religiosas do monastério, tanto para os monges quanto ao público leigo.
  • Ponham fim a assim chamada "campanha de educação patriótica" atualmente imposta aos monges do monastério de Kirti que têm sido compelidos a seguir sessões de doutrinação ideológica comunista desde abril de 2011.
  • Forneçam esclarecimentos completos sobre o estado de 300 monges que foram levados do Monastério de Kirti em abril de 2011, a respeito dos quais intervieram vários Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos, incluindo o Grupo de Trabalho de Desaparecimentos Involuntários ou Impostos.


  •  Liberem informações sobre os que foram detidos em Ngaba desde 16 de março de 2011, em especial sobre seus atuais paradeiros e estados de saúde.
  •  Libertem todos os presos políticos tibetanos.
  •  Informem o estado dos tibetanos que foram hospitalizados após os protestos de auto-imolação, incluindo seu acesso a tratamento médico.
  • Suspendam o sitiamento em Ngaba, Província de Sichuan e permitam o acesso de observadores independentes à região.
Atenciosamente,

Assinado:


1. Mahatma Gandhi International, Bélgica

2.  Mouvement contre le racisme et pour l'amitié les peuples (MRAP), França
3.  International Federation for Human Rights (FIDH), França
4. Forum Human Rights, Alemanha
5. Society for Threatened Peoples, Alemanha
6. World Uyghur Congress, Alemanha
7. Marangopoulos Foundation for Human Rights, Grécia
8. Asian Indigenous and Tribal Peoples Network (AITPN), India
9. Banglar Manabadhikar Suraksha Mancha (MASUM), India
10. South Asia Network against Torture & Impunity (SANTI), India
11. No Peace Without Justice, Itália

12. Nonviolent Radical Party, transnational and Transparty, Itália

13. Unrepresented Nations and Peoples Organisation (UNPO), Holanda
14. International Campaign for Tibet-Europe, Holanda
15. Movement for the Survival of the Ogoni People (MOSOP), Nigéria

16. Helsinki Foundation for Human Rights, Polônia
17. Law and Society Trust, Sri Lanka
18. Saami Council, Suécia

19. World Organisation Against Torture (OMCT), Suiça

20. Rencontre Africaine de Défense Pour les Droits de l'Homme (RADDHO), Suiça
21. Forum Asia for Human Rights and Development, Tailândia
22. Christian Solidarity Worldwide (CSW), Inglaterra

23. Mapuche Inernational Link, Inglaterra
24. International Educational Development, EUA
25. Association of Humanitarian Lawyers, EUA
26. Human Rights in China (HRIC), Hong Kong e EUA
27. World Sindhi Institute, Canada-EUA

Preso Geshe Tsultrim Gyatso

Comunicado Do Centro Tibetano para os Direitos Humanos e Democracia
25 de outubro de 2011

Em 14 de Outubro, o Geshe Tsultrim Gyatso do monastério de Dhitsa Gonghuo County na província de Qinghai foi preso pela polícia de segurança nacional de Qinghai, segundo fontes. 

Geshe Tsultrim Gyatso foi convidado a falar na Escola Nacional Tongchey Trika e nessa ocasião foi preso pela polícia. Nenhum dos membros da sua família ou de seu convívio foi informado de sua prisão. 

Geshe Gyatso, cerca de 40 anos, é do condado de Gonghuo, município de Changshey, província de Qinghai. Ele estudou e recebeu seu grau de Geshe no monastério Dhitsa. Ele é vice-presidente do Comitê de Gestão Democrática do monastério. Muitas vezes ele foi convidado por várias escolas e instituições para dar palestras sobre a preservação da língua e da cultura tibetana. Muitas vezes ele aconselhou as pessoas a preservar a tradição tibetana e falar a língua tibetana pura. 

Geshe Gyatso também é vice-presidente da fundação de caridade "Kiri Tsong-kha", que fornece cuidados e apoio a idosos e oferece ajuda financeira escolar para as crianças cujas famílias não podem pagar.

 Desde sua prisão não foi fornecida mais nenhuma informações sobre o seu estado ou localização.

sábado, 22 de outubro de 2011

Sobre o Clima, Ética, Arroto de Vaca e o Dalai Lama

By Andrew C Revkin
The New York Times / Dot Earth Opinion page

No início desta semana, ouvi através de algum tráfego de e-mail que 10 cientistas e estudiosos do clima,  comportamentais e ambientais  se reuniram com o Dalai Lama para discutir "a ecologia, ética e interdependência" - uma mistura no centro deste blog. A reunião faz parte de uma série contínua de debates sobre a interface entre as abordagens contemplativas e científicas dos desafios da humanidade. Aqui está uma parte gravada dessa série:




Não tive tempo ainda para ver mais do que alguns minutos do vídeo, mas eu convidei dois participantes para enviar um Dot Earth Postcard. Eles são Diana Liverman, co-diretora do Instituto de Meio Ambiente da Universidade do Arizona, e Elke U. Weber do Centro de Pesquisa sobre Decisões Ambientais da Universidade de Columbia. Weber foi um contato essencial para o meu trabalho "sobre comportamento e clima" desde que ela escreveu um artigo intitulado "Por que o aquecimento global não nos assusta (ainda)."

Aqui está a correspondência: 

     Saudações de Dharamsala, na Índia, onde temos participado de uma conversa sobre Ecologia, Ética e Interdependência com Sua Santidade o Dalai Lama e vários outros líderes budistas tibetanos e estudiosos. Organizado pelo Mind and Life Institute, o seminário é o último de uma série anual de encontros que reúnem cientistas e estudiosos contemplativos para discutir as últimas descobertas científicas e sua relação com o pensamento e a prática budistas. Há dez de nós que foram convidados a falar, uma espécie de Arca de Noé disciplinar: um psicólogo, um geógrafo, um ecologista industrial, um especialista em ética ambiental, um especialista em saúde pública, um teólogo cristão, um ativista ambiental, e estudiosos do Tibete. Temos nos sentado em turnos ao lado do Dalai Lama e conversado com ele sobre as questões ambientais e ele foi extremamente atencioso, interrompendo-nos para pedir esclarecimentos ou fazer um comentário relevante.

Ele também fez uma apresentação sobre meio ambiente. Apesar de estarmos discutindo questões graves, também acontecen piadas e muitas risadas, muitas vezes iniciadas pelo Dalai Lama, que tem um grande senso de humor, seja em relação à maneira exata como o gado emite gás metano ou sua relação complicada com o mosquito. cerca de 35 monges, um punhado de monjas, e cerca de 50 outros convidados, e os trabalhos foram mostrados na TV local, vídeo web ao vivo transmitido para uma média de cerca de 10.000 espectadores a cada dia e estão disponíveis aqui: http://www.mindandlife.org/dialogues/ml23/

Todas as manhãs temos sido lembrados dos riscos da mudança climática enquanto caminhamos da nossa casa de hóspedes para a residência do Dalai Lama, com as vastas planícies secas da Índia de um lado e os picos do primeira cadeia do Himalaia no outro.

 As ruas estão cheias de monges, cães, burros, vacas, pessoas residentes e alguns turistas, e em toda parte se sente o Tibete no exílio. Uma das partes mais gratificantes do seminário foi a sessão de perguntas e respostas com os monges, no final de cada dia. Eles são fascinados pela ciência, fazendo perguntas sobre a história do clima do planalto tibetano e as chances de atingir pontos de desequilíbrio ambiental, bem como questões sobre o pensamento ocidental e política ambiental. 

Sua Santidade o Dalai Lama, ele próprio um mestre do método científico na sua busca de uma visão analítica, mostra um enorme respeito pela ciência e cientistas, e frequentemente enfatiza a importância da educação e da informação na construção da consciência. ... Tivemos uma conversa importante com Sua Santidade o Karmapa, que tem um forte interesse pelo meio ambiente e desenvolveu diretrizes para a sustentabilidade de seus monastérios. Muitas conexões e conversas surgiram ao longo da semana, tais como a análise da vulnerabilidade climática e os conceitos budistas de compaixão e de aliviar o sofrimento, o papel da dieta vegetariana na redução das emissões e na ética, e as relações entre a análise do ciclo de vida e interdependência.

 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CULTIVANDO EMOÇÕES CONSTRUTIVAS - Palestra de Sua Santidade Dalai Lama em São Paulo, em 17.09.2011

 
Esta manhã, numa palestra, tive a oportunidade de falar sobre o afeto, sobre a importância das qualidades que vêm do coração, da importância do calor que vem do coração e de como isso é um fator crucial para trazer felicidade para nossa vida, para criar a amizade. Todos os mamíferos – cachorros, gatos, elefantes e até mesmo os pássaros que vivem em comunidade – todos esses seres têm uma experiência de felicidade e esse sentimento não somente é agradável como é necessário para a sobrevivência da espécie. Esse é um fator que aparece naturalmente – faz parte da natureza – e também faz parte da natureza dos seres humanos enquanto animais sociais. Todos nós, desde o nosso nascimento, crescimento e especialmente na nossa primeira idade, estamos sujeitos ao afeto e ao cuidado das nossas mães, fomos nutridos pelo leite das nossas mães. Esse corpo que nós carregamos hoje se desenvolveu numa atmosfera de afeto e as pessoas que, em tenra idade, receberam uma quantidade máxima de afeto de suas mães ou de seus familiares, são pessoas que trazem consigo, num nível bastante profundo, uma sensação de segurança e serenidade. Ao contrário, as pessoas que, nesta primeira fase, não tiveram o mérito de receber afeto de sua mãe ou de seus parentes ou se, ainda pior, foram vítimas de maus tratos, essas pessoas – não importa a aparência externa que elas possam manifestar – vão deixar transparecer a sua insegurança, o seu medo e a sua desconfiança. Elas terão muito mais dificuldade de tocar o outro, de se comunicar com o outro, de estabelecer verdadeiras relações de amizade; isso é muito mais fácil para uma pessoa que tenha recebido afeto na sua infância. E, se dentro de uma família existe uma pessoa infeliz, isso vai afetar o clima de toda a família; ao contrário, se existe uma pessoa muito alegre e calorosa, esse sentimento se espalha, há uma influência positiva para tornar essa família compassiva e afetuosa.

Todas as grandes tradições religiosas do mundo, como é o caso do Budismo e das religiões teístas - aquelas que propõem a idéia de um Deus - todas têm uma mensagem comum: mensagem de amor, compaixão, tolerância e perdão; todas essas tradições falam sobre esses valores humanos, todas as religiões enfatizam esses fatores cruciais, essenciais à raça humana.

Eu usei a expressão “valores humanos” e por que eu usei esse termo? Porque esses valores são úteis à nossa felicidade; são até mesmo necessários à nossa existência e eu uso a expressão “valores humanos” porque eles não vêm necessariamente associados a uma crença religiosa, tampouco eles são algo imposto, por exemplo, por um governo. Esses valores são relevantes à nossa vida, tanto para uma pessoa que tenha uma religião, uma fé, uma crença quanto para uma pessoa que não tenha uma crença. Mesmo uma pessoa agnóstica, que se oponha à religião, ela também precisa de afeto, igualmente ela cresceu nutrida pelo afeto.

Eu acredito que nos primórdios da humanidade - há muitos milênios atrás - os seres humanos viviam em comunidade e o que conseguiam obter, compartilhavam entre si; provavelmente havia um espírito de cooperação entre essas comunidades e também um sentimento de amizade. Com o decorrer dos séculos e com o aumento da população, a vida do homem foi se tornando mais sofisticada – apareceram novas habilidades, profissões foram desenvolvidas – e assim, foram criadas as classes entre os seres humanos e, no decorrer desse processo, a minha impressão é que se esqueceu que todos aqueles seres humanos formavam uma comunidade única, passou-se a ter um sentimento de “meu grupo” em oposição ao grupo do outro lado. Nos últimos três séculos, nós assistimos ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia; os seres humanos não só desenvolveram como começaram a se maravilhar com os progressos oferecidos pela tecnologia e pela ciência. A partir desse interesse, também se desenvolveu o sentimento de que as secções religiosas eram uma coisa antiquada, mas se nós olharmos para a tecnologia, para o dinheiro, veremos que essas coisas não têm sentimento, não trazem intrinsecamente uma noção de bem e de mal; a nossa noção de bem e mal está muito ligada à nossa experiência de prazer e de dor. As coisas que nos trazem prazer e felicidade, nós as chamamos de boas, positivas; ao contrário, as que nos trazem sofrimento, nós as chamamos de negativas: é assim que nós diferenciamos – estabelecemos critérios – para definir o que é positivo e o que é negativo; nós nos baseamos nos sentimentos que as coisas produzem. Mas se olharmos para a matéria, ela não traz intrinsecamente essa noção do certo ou do errado, do bom ou do mau; a matéria não tem a capacidade do pensamento e à medida que valorizamos muito as coisas materiais, nós vamos esquecendo e negligenciando os valores humanos.

Na segunda metade do século passado, algumas pessoas, embora tivessem muito sucesso, se tornassem muito ricas contando com todo o tipo de recurso à sua volta, ao seu dispor, ainda assim, essas pessoas traziam o sentimento de que alguma coisa parecia estar faltando; apesar de serem abastadas, poderosas e influentes, muitas ainda experimentavam infelicidade. Ficou então patente que os recursos materiais não conseguem nos proporcionar paz interior; esse é um fator a ser levado em conta.

Um segundo fator é que, com as pesquisas científicas, a ciência médica passou a se interessar mais sobre as emoções e sobre a mente humana; constatou-se que a influência das emoções e da mente sobre a recuperação da saúde, por exemplo, é de grande importância. Também se desenvolveu o conhecimento científico sobre o cérebro humano; mais pesquisas são feitas nesse campo e quanto mais profundas elas são, mais os cientistas esbarram num fator misterioso; porém, ainda que não exista uma compreensão absoluta do que seja a mente, ela continua sendo um grande desafio para a ciência. Os cientistas porém já reconhecem que há uma influência da mente ou dos pensamentos sobre o cérebro; reconhecem até mesmo que o cérebro fisicamente se modifica. Os cientistas, no passado, não se interessavam tanto pela mente – simplesmente achavam que a mente era uma reação – mas agora, cada vez mais, colocam perguntas sobre o que é a mente.

Esses dois tópicos: a percepção de que os valores materiais não são suficientes para nos trazer felicidade e o campo da ciência e das pesquisas que, apesar dos mistérios ainda ligados à mente, é um campo que se abriu para a pesquisa científica e o interesse da ciência. Ontem de manhã e à tarde, estivemos reunidos com neurocientistas que estudam o cérebro e, como parte de suas pesquisas, eles têm estudado o efeito que o treinamento da mente produz sobre a saúde humana. Foi descrito um experimento onde os cientistas medem a pressão arterial, medem o nível de stress de uma pessoa; posteriormente, essa pessoa passa por um treinamento da mente sobre a compaixão e, ao final desse treinamento, mede-se novamente a pressão arterial e verifica-se que ela baixou; é testado o nível de stress e os resultados científicos mostram a redução desse nível. Para uma pessoa com nível de stress mais baixo, fica mais fácil estabelecer relações sociais e essa pessoa passa a ser mais feliz; os cientistas então têm mostrado interesse em pesquisar essa questão dos valores internos.

Eu tenho um sentimento de que as pessoas em geral - as pessoas comuns, o público, em geral - experimentam uma frustração que existe no mundo moderno: mesmo aqueles países que são democráticos, onde o governo é eleito pelo povo, aqueles países que têm o Poder Judiciário independente, onde há liberdade de imprensa, ainda assim se vê muita injustiça e isso traz uma sensação de frustração. Com isso, mais e mais, vemos pessoas que tomam consciência de que falta cultivar valores éticos na nossa sociedade, falta a incorporação da moral e da ética; começa então, entre professores, cientistas e educadores, a aparecer esse sentimento da importância da ética e da moral na educação e a percepção de como isso não está presente no nível em que deveria estar.

Todas as grandes tradições religiosas do mundo vão cultivar esses valores internos – a moral e a ética – mas é fundamental, como premissa básica, que exista harmonia entre as diferentes tradições religiosas porque se isso não acontecer, se houver rixas e inveja entre as tradições religiosas, como pode o religioso ter a pretensão de querer ensinar, propagar algum tipo de valor ético? Certamente alguém iria apontar: mas você próprio se envolve com brigas, com intolerância, você é o primeiro que deveria estar cultivando paciência e compaixão!

É fundamental que haja um esforço, uma determinação, entre as diferentes tradições religiosas para se encontrar a harmonia e uma convivência pacífica entre elas; se a pessoa se diz religiosa, se ela é adepta dos preceitos de uma religião, é fundamental que ela se conduza de uma forma honesta e verdadeira porque, caso contrário, qual é a condição de uma pessoa que faz orações a Deus e quando se levanta e sai para a sua vida, se envolve, por exemplo, com corrupção? Isso não faz sentido nenhum.

Eu só vejo duas possibilidades: ou você é uma pessoa que não tem nenhum envolvimento religioso então, tudo bem se você se envolve com injustiça, com corrupção, com trapaças, mas se você se diz religioso, se você dá importância à ética, então você não pode se envolver com esse tipo de sujeira; só existe uma conduta ou outra, não existe um terceiro caminho e eu acho que as pessoas que são religiosas deveriam, em suas orações, pedir que os falsos religiosos sejam condenados.

Em países onde não há liberdade de expressão, onde não há um judiciário independente, onde apenas se valoriza o poder e o dinheiro, a ética fica relegada ao abandono, como acontece na China. Mesmo em países onde há total liberdade, governo eleito pelo povo - como na Índia e no Brasil - ainda assim existe a corrupção que passa até a ser uma forma de vida, passa a ser uma coisa aceitável por uma parte da sociedade.

Todas as grandes facções religiosas do mundo – apesar das grandes diferenças filosóficas que existem entre elas – todas veiculam a mesma mensagem: de amor, compaixão, perdão, auto disciplina, justiça e honestidade. Todas falam sobre esses valores e, mais importante, todas oferecem instrumentos para podermos cultivar esses valores com o objetivo de criar uma comunidade humana saudável e feliz. Dentro dessas tradições religiosas, encontramos dois grandes grupos: de um lado as religiões teístas e, de outro lado, as que são não-teístas. Na categoria das que são não-teístas há uma subdivisão: as religiões que acreditam na existência de um eu independente e aquelas que não acreditam na existência de um eu independente. O budismo se insere na categoria das religiões não-teístas e é uma religião que não postula a existência de um eu independente; antes, o budismo fala sobre a lei da causalidade. Essa ausência de crença em um eu independente é um conceito único do budismo. O budismo vai falar naquilo que se chama originação interdependente que em sânscrito é pratityasamutpada.

No budismo, encontramos duas tradições: a tradição páli e a tradição sânscrita. A tradição páli forma a base do budismo – ela por si só consegue se manter, ela é completa; a tradição sânscrita, ao contrário, depende da tradição páli. A tradição páli é o alicerce sobre o qual se assenta a tradição sânscrita. Mas a tradição budista que vem do sânscrito contém as explicações mais sofisticadas e mais profundas que o budismo tem a oferecer.

Ao falar desse conceito budista da interdependência que é a lei da causalidade, esse conceito diz que todos os fenômenos estão se transformando a cada segundo, eles todos ocorrem a partir de suas próprias causas e condições; então todo resultado depende inteiramente de suas causas e condições. Essa a primeira maneira de se entender a interdependência. Dentro da tradição sânscrita, nós encontramos duas escolas de pensamento: a escola Cittamatra e a escola Madhyamika. Os entendimentos da escola Madhyamika, a meu ver, são os mais profundos; na escola Madhyamika se diz que não apenas o resultado depende da causa, mas a causa também é totalmente dependente do resultado; para que uma causa possa ser causa ela vai depender do resultado; e também existe uma outra distinção que se faz em Madhyamika do conceito de interdependência que é a ligação entre a parte e o todo, entre o átomo e o todo. O fato da existência de uma pessoa ser totalmente definida a partir dos agregados físicos dela, não existe uma noção de pessoa que se assente no conjunto dos agregados, este é o postulado da falta de existência intrínseca do eu. Nós encontramos este postulado nas quatro escolas budistas: Vaibhashika, Sautrantika, Cittamatra e Madhyamika.

Além da ausência da existência intrínseca das pessoas, o budismo também fala que os fenômenos não têm existência intrínseca. Se nós olharmos os cinco agregados que formam a base para designarmos, por exemplo, uma pessoa - se nós formos examinar os agregados que a compõem - vamos ver que eles também, por sua vez, dependem de suas partes. Isso vale não só para os agregados físicos que existem no mundo grosseiro observado, mas também vale para as essências a partir das quais esses cinco agregados físicos provém. Essas essências também são desprovidas de existência intrínseca. Isso vale tanto para o nível mais grosseiro quanto para o nível mais sutil; se nós olharmos coisas mais etéreas como o espaço, veremos que elas são desprovidas de existência intrínseca, também são dependentes de seus componentes. Isso é válido não só para o mundo externo que é observado, mas se aplica também à própria mente que observa os fenômenos - ela também não tem existência intrínseca - e é assim que se descreve a falta de existência intrínseca dos fenômenos.

Dentro da tradição budista que vem do sânscrito, nós encontramos dois tipos de vacuidade quando falamos dos seres sencientes: existe a vacuidade do eu e existe a vacuidade da base do eu. As diferentes escolas budistas, como Cittamatra e Madhyamika, têm conceitos, têm postulados diferentes sobre a vacuidade: Sunyata.

Qual o sentido de desenvolvermos todas essas complicações filosóficas? Porque a causa última do sofrimento é a ignorância e quando falamos de ignorância, falamos de dois tipos: aquilo que pode ser chamado de mera ignorância, por exemplo, não saber o que é ABC: uma criança, até que chega o dia em que ela vai a escola e onde alguém lhe ensina o alfabeto, ela não conhece o ABC, então essa ignorância é uma falta de conhecimento. O segundo tipo de ignorância é uma percepção ou uma apreensão errônea da realidade: alguém olhar a letra A e achar que é B, olhar B e achar que é o C.

A remoção completa da ignorância só acontece quando se chega ao estado búdico. No budismo se diz que a apreensão errônea da realidade é a causa última do sofrimento e, sendo assim, qual seria o antídoto que poderia se contrapor a essa causa? Não é a oração, também não é a mera meditação, tampouco bodicita – ela não pode ter essa função – nem a compaixão infinita pode debelar essa concepção errônea da realidade. A única coisa que pode desempenhar esse papel é a sabedoria; através da sabedoria você pode ir se familiarizando mais e mais com a realidade até por fim chegar a entendê-la e quando você, de fato, entende plenamente a realidade em sua instância última, isso debela a ignorância e, por conseguinte, o sofrimento.

De modo geral, nós temos uma apreensão incorreta da realidade: se eu olho para vocês e vocês olham para mim, vocês podem estar me vendo como um ser absoluto, independente de vocês; eu sou o Dalai Lama e você é você. Mas essa é uma compreensão incorreta: não existe nada que seja independente de forma absoluta; todas as coisas são interdependentes e, a partir dessa concepção errônea da realidade, surge a base do apego, a base de todas as emoções negativas. Quanto às emoções positivas, elas podem ser cultivadas a partir de um treinamento; então, se você pratica o amor e a bondade, isso reduz as emoções negativas como a inveja ou a raiva.

Em termos últimos, o que vai debelar as emoções negativas é a sabedoria, é você se familiarizar com o que, de fato, é a realidade em sua instância última; então, você poderá entender que as coisas aparecem aos nossos olhos como absolutas e independentes, mas isso é apenas uma miragem. Quando, de fato, você tem essa compreensão, essa é a base a partir da qual as emoções destrutivas podem ser dissipadas.

Na tradição sânscrita do budismo se diz que o Buda girou a roda do darma três vezes: no primeiro giro, ele falou sobre a base do budismo: as quatro nobres verdades. No segundo giro da roda do darma, o Buda deu explicações adicionais sobre a terceira nobre verdade que é a verdade da cessação, a possibilidade da cessação, baseada no conceito das duas verdades: a verdade convencional e a verdade última. No terceiro giro da roda do darma, o Buda ofereceu ensinamentos mais elaborados sobre a quarta nobre verdade: que é a possibilidade da eliminação de todas as emoções destrutivas e isso é possível porque no nível mais sutil da natureza da mente, ela é clara como a luz. A natureza da água é ser limpa e pura, mas muitas vezes quando ela se mistura com o barro ou outra substância, ela fica turva, porém por mais suja que ela possa estar, a sua natureza essencial é límpida. Isso vale para a nossa mente: por mais turva que a nossa mente possa estar pelas nossas emoções destrutivas, a realidade última da nossa mente é que ela é límpida e por isso essa separação se torna possível. As emoções destrutivas nos divorciam da realidade. A sabedoria pode dar a compreensão da realidade última e esse é o antídoto. Por mais potentes que possam ser as emoções destrutivas, por mais sobrecarregada de negatividades que possa estar uma mente, essas negatividades podem ser absolutamente limpas, pois elas não são a natureza última.

Embora tibetano, tenho uma conexão direta com a tradição da Universidade de Nalanda. Isso porque, no Tibete, o ensino foi introduzido por um grande mestre chamado Shantarakshita, um grande erudito que dava ensinamentos na Universidade de Nalanda. Ele chegou ao Tibete no século VIII a convite do Imperador; como ele era monge, ele introduziu a tradição monástica no Tibete, mas ele era também um grande filósofo, um grande erudito, então ele introduziu também ensinamentos de Madhyamika, de lógica, de epistemologia; deu ensinamentos tão profundos e completos que até os dias de hoje esses textos são estudados. Também veio ao Tibete um grande mestre tântrico, Padmasambava. Podemos então dizer que o budismo tibetano é completo: ele inclui a tradição dos sutras que vem do páli, toda a versão que vem do sânscrito e toda a versão tântrica. É importante enfatizar essa raiz do budismo, proveniente da Universidade de Nalanda; na tradição tibetana, encontramos basicamente 300 volumes de textos, sendo que 100 textos contém as palavras do próprio Buda e os demais são comentários sobre as palavras do Buda. É muito importante que esses textos sejam estudados – eles não devem ser tomados apenas como objetos de veneração para se colocar sobre o altar e para se dirigir as orações – para que eles possam ser de fato eficazes, precisam ser usados, estudados.

Ao longo da implantação do budismo no Tibete, em diferentes regiões, diferentes ensinamentos foram criados e diferentes nomes foram dados às escolas que cultivavam esses ensinamentos. Foi assim que apareceu a seita dos chapéus vermelhos e dos chapéus amarelos – fico com vontade de criar uma nova seita, a dos chapéus verdes! – mas isso não é importante; o importante é que todos têm uma raiz comum, essa nobre tradição da Universidade de Nalanda. Às vezes, por causa dessas diferentes seitas, também se desenvolveu o sectarismo no Tibete – as pessoas se apegavam à sua própria seita. Mas também no Tibete se desenvolveu um movimento muito importante de não-sectarismo e um grande mestre dessa tradição é Jamyang Khyentse Wangpo. Eu cultivo, estudo e prezo as tradições não-sectárias do budismo tibetano; originalmente os Dalai Lamas pertenciam à seita dos chapéus vermelhos mas, ao longo da história, muitos Dalai Lamas - inclusive o atual Dalai Lama - receberam ensinamentos das diferentes escolas do budismo tibetano: dos Sakyas, dos Nyngmas, dos Kagyus. Isso ajuda muito; não faz muito sentido ficar apegado apenas à sua tradição, isso vai limitar o seu conhecimento, ao passo que se você se coloca aberto para receber os ensinamentos das diferentes tradições, isso vai fortalecê-lo. 

 Transcrição de  Isabel Poncio.