quinta-feira, 20 de outubro de 2011

China: Budistas Tibetanos vivem com medo após imolações

SHANBA, China - Um lama tibetano no sudoeste da China evita responder perguntas sobre a onda de auto-imolações na região, dizendo que seus monges são proibidos até de falar sobre os protestos contra a repressão religiosa.


 Em pé sob o novo telhado da sala principal do mosteiro budista, o monge vestido de marrom percorre seu mala nervosamente com os dedos, enquanto olha por sobre uma pequena praça para uma delegacia de polícia a poucos passos de distância.

 O lama, cujo nome a AFP manterá em sigilo para sua segurança, diz que seus monges foram todos submetidos a "educação política" pelo Estado e que até mesmo mencionar o líder espiritual tibetano Dalai Lama "não será nada bom".

 "Sim, recebemos educação política. Devemos estudar o socialismo harmonioso, mas nossos monges passam a maior parte de seu tempo estudando as escrituras", disse o lama. 
 
O lama, na casa dos cinquenta anos, fez questão de frisar que eles ainda podem praticar sua religião e que as coisas melhoraram desde a Revolução Cultural, quando os fanáticos comunistas destruíram o patrimônio cultural no Tibete e de outros lugares. 

"Eles nos asseguraram que a Revolução Cultural nunca voltará", disse ele.

 Oito monges budistas e uma freira atearam-se fogo este ano, em protesto contra o que eles dizem ser a repressão religiosa e cultural em áreas tibetanas da China.

 Grupos de direitos humanos dizem que pelo menos cinco morreram e os Estados Unidos na quarta-feira expressou "séria preocupação" sobre a situação, pedindo à China que "reavalie as políticas contraproducentes em áreas tibetanas que criaram as tensões".

 Muitos monges entrevistados pela AFP, durante uma visita à área nesta semana, se recusaram até mesmo a usar as palavras "auto-imolação" ou a falar sobre o Dalai Lama, embora todos parecessem estar acompanhando de perto as suas palavras.

 "Nós não temos liberdade", disse um deles. "A situação era melhor antes. Há alguns anos, antes de 2008, a situação era melhor, mas agora praticamente não temos liberdade."

A China aumentou drasticamente a presença militar e policial em áreas com grandes populações tibetanas desde os motins de 2008, na capital tibetana de Lhasa.

 As políticas de Pequim com relação à religião tem sido  sentidas de forma particularmente profunda em comunidades tibetanas, onde o budismo é central para a sociedade. Cada família tradicionalmente envia um de seus filhos aos monastérios para se tornarem monge ou monja.

 No monastério da província de Sichuan na cidade de Shanba, cerca de 200 km (125 milhas) a leste do condado de Aba, onde a maioria das auto-imolações ocorreram, jovens monges brincavam na sombra de um imponente pico coberto com neve fresca.

 Dentro do templo principal do Monastério "Buda Vivo", um monge considerado a reencarnação de um lama altamente realizado, abençoava um casal chinês e seus filhos em tibetano, enquanto um monge sênior traduzia impecavelmente para o idioma chinês. Depois da bênção, com incensos e velas, o casal doou 1.000 yuan (150 dólares) para o templo.

Aqui, os monges vivem em relativa harmonia com a população de não-tibetanos, mas foram construídas delegacias de polícia perto de quase todos os monastérios da região - um lembrete constante das tensões subjacentes com as autoridades.

 O Monastério Kirti em Aba está sitiado desde que um jovem monge chamado Phuntsog ateou fogo a si mesmo em março, desencadeando protestos em massa que levou a uma forte repressão policial.

Na segunda-feira, uma freira em Aba tornou-se a primeira mulher a auto-imolar, clamando por liberdade religiosa e pelo retorno do Dalai Lama ao Tibete en quanto as chamas ardiam.

Grupos de direitos humanos dizem que a escalada de auto-imolações é uma indicação do desespero sentido pelos budistas, particularmente porque por fim a suas próprias vidas vai contra os seus ideais religiosos.

O Dalai Lama fugiu do Tibete após um levante fracassado contra o domínio chinês em 1959.

 Ele fundou o governo do Tibete no exílio, na cidade de Dharamshala no norte da India, onde lhe foi oferecido refúgio, e continua a ser reverenciado em regiões tibetanas da China, mas desprezado por autoridades comunistas da nação.

 A China tem investido fortemente no  desenvolvimento do Tibete e de outras áreas com grandes populações tibetanas, nos últimos anos, incluindo a reconstrução de monastérios destruídos durante a Revolução Cultural.

 Por manter-se distante de questões controversas, o monastério de Shanba, que pertence a uma escola do budismo tibetano diferente da do Dalai Lama, como muitos outros monastérios em regiões da China habitadas por tibetanos, está lentamente se reconstruindo.

 No salão principal as portas de madeira ornamentadas parecem recém-esculpidas, enquanto novos afrescos de deidades budistas brilham nas paredes gigantes do edifício.

"Não adianta falar sobre (o Dalai Lama). Mostrar apoio a ele não nos fará bem", disse
o lama abaixando a cabeça para esconder a emoção em seus olhos.

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