domingo, 16 de outubro de 2011

Compaixão é assim: uma visão budista sobre "Occupy Wall Street"

Joan Halifax
Tudo começou há 28 dias, com um grupo desorganizado de pessoas que se auto-denominavam "Occupy Wall Street", reunindo-se na Liberty Square Plaza, em Nova York, sob as sombras dos arranha-céus.

Eles se reuniram para chamar a atenção sobre a desproporcional influência que o 1% mais rico dos americanos tem sobre o nosso sistema político e econômico. Usando a frase “Nós somos os 99%”, eles desenharam um círculo de inclusão em torno das miríades de formas de violência e sofrimento estruturais que tantos de nós experimentam nos dias de hoje.

O Buda provavelmente concordaria com a análise deles. Muitos textos budistas apontam que a pobreza não é nenhum carma ou destino individual, mas que existe em uma rede de causas e condições. O Buda também percebeu que a forma de construir uma sociedade pacífica é assegurar uma distribuição de recursos equitativa.

Numa interpretação mais contemporânea dos ensinamentos budistas, o Ven. Thich Nhat Hanh oferece este preceito: “Não acumule riqueza enquanto milhares sentem fome. Não tome fama, lucro, riqueza ou prazeres sensuais como o objetivo da sua vida.” Roshi Bernie Glassman diz: "não nutra um espírito de pobreza em si mesmo ou em outros".

Em menos de um mês, esta reunião em Nova York transformou-se em um movimento global que capturou a imaginação e a visão do público. Esse é um movimento sem liderança, que começou sem nenhuma exigência clara, e que é comprometido com a não-violência. Este é exatamente o tipo de movimento que aqueles com privilégios e poder não sabem como conter.

Existe um precedente deste tipo de mudança social. O movimento dos Direitos Civis, embora agora quase exclusivamente identificado com o Rev. Martin Luther King Jr., e em menor grau com Rosa Parks, era na realidade composto por vários líderes em diversos lugares que gradualmente se auto-organizaram de forma a se tornarem maior que a soma de suas partes. E como “Occupy Wall Street”, o movimento dos Direitos Civis cresceu em sua própria base de poder com uma consagração de justiça para todos.   

Alguns têm criticado ou ridicularizado o “Occupy Wall Street” por não ter formulado uma lista de exigências claras por mudança. Ao invés disso, tem contado com um processo participativo, até mesmo convidando o público em geral a ponderar quais questões têm maior importância.

O que é realmente notável sobre esse movimento é que está ressaltando o processo de “como” as mudanças acontecem como mais importante do que “o quê” mudar.

As pessoas nas ruas de Nova York estão no processo de "serem a mudança que desejam ver", usando a frase de Gandhi. Eles se organizaram para prover cuidados com a saúde uns dos outros, alimentar uns aos outros, limpar os espaços juntos, lidar com situações difíceis usando soluções criativas. Eles têm intencionalmente recusado alinhamentos com qualquer partido político para manterem sua mensagem aberta à audiência mais ampla. Eles têm se esforçado para usar um processo coletivo de tomada de decisão para que as vozes dos marginalizados possam ser ouvidas e consideradas.

No contexto dos ensinamentos e práticas budistas, todas estas são ações compassivas.

Isto me traz à mente as palavras da autora indiana e ativista Arundhati Roy em 2003 no Forum Social Mundial:

Arundhati Roy

"Nossa estratégia deveria não ser apenas confrontar o império, mas sitiá-lo. Privá-lo de oxigênio. Envergonhá-lo. Zombar dele. Com a nossa arte, nossa música, nossa literatura, nossa teimosia, nossa alegria, nosso brilho e nossa implacabilidade absoluta – e nossa habilidade de contar a eles as nossas próprias histórias. Histórias que são diferentes das que aqueles que passaram por lavagem cerebral acreditam. A revolução corporativa irá colapsar se nos recusarmos a comprar o que estão vendendo – suas ideias, sua versão da história, suas guerras, suas armas, sua noção de inevitabilidade".



A queda de qualquer revolução se dá quando replica sem saber o que veio antes dela. “Occupy Wall Street” pode ter sucesso? Sim, se continuar a colocar a generosidade e a compaixão sobre a ganância, e se reconhecer o poder da interdependência, da causalidade e do altruísmo.

Este texto tem a co-autoria de Maia Duerr, ex-diretora executiva do Buddhist Peace Fellowship e atual diretora do Upaya Buddhist Chaplaincy Training Program. Veja o blog de, The Jizo Chronicles, para mais prespectivas budistas sobre “Occupy Wall Street”.

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