terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desmond Tutu ataca o Governo Sul-Africano por impedir a visita de Sua Santidade o Dalai Lama

Photograph: Nic Bothma/EPA
 O Arcebispo Desmond Tutu, visivelmente tremendo de raiva, comparou negativamente o governo Sul-Africano com o regime do apartheid e ameaçou rezar para a queda do Congresso Nacional Africano (ANC) ontem, depois que o Dalai Lama disse ter sido forçado a retirar-se das celebrações do 80º aniversário de Tutu, por seu visto de entrada não ter sido concedido.

"Nosso governo é pior do que o governo do apartheid", Tutu disse a uma conferência de imprensa na Cidade do Cabo. "Esperávamos que o nosso governo fosse sensível aos sentimentos de nossa constituição."

Em um discurso que surpreendeu os jornalistas Sul-Africanos, ele continuou: "Deixe que o ANC pense que têm uma grande maioria. Bem, Mubarak tinha uma grande maioria, Gaddafi tinha uma grande maioriaEstou avisando: Cuidado!  Cuidado!"

"Nosso governo - que representa a mim! - diz que não vai apoiar os tibetanos que estão sendo violentamente oprimidos pela China. Você, presidente Zuma e seu governo, não me representam. Estou avisando, como eu avisei aos nacionalistas
[pró-apartheid]: um dia vamos rezar pela derrota do governo do ANC ".

Tutu havia convidado seu companheiro laureado com o Nobel da Paz a dar uma palestra para marcar seu aniversário em Cape Town, na sexta-feira. Funcionários do escritório do arcebispo emérito iniciaram o processo do pedido de visto em junho, mas encontroaram uma série de atrasos burocráticos.

Na terça-feira, o escritório do Dalai Lama, finalmente, desistiu do pedido. "Sua Santidade deveria partir para a África do Sul em 06 de outubro, mas os vistos não foram concedidas ainda," disse um porta-voz. "Estamos, portanto, agora convencidos de que, por qualquer razão ou razões, o governo Sul-Africano acha inconveniente a emissão de um visto para o Dalai Lama".

Tutu disse que ainda estava lutando para dar sentido ao que tinha acontecido. "Eu tenho que dizer que eu não posso acreditar, eu realmente não consigo acreditar", exclamou. "Acorde-me e me diga que isso não está realmente acontecendo aqui. É inacreditável. A descortesia que eles demonstraram ao Dalai Lama. Ao Dalai Lama!"

"O Dalai Lama, em qualquer lugar do mundo, encontra problemas para encontrar um local que possa receber todas as pessoas que querem vê-lo. Ele vai a Nova York e o Central Park transborda. A descortesia é alucinante".

Perguntado se ele sentia que o líder espiritual tibetano havia sido de fato banido do país, Tutu respondeu: "Para todos os efeitos, sim. E esse é o Dalai Lama. Incrível."

"Muitas e muitas pessoas estão horrorizadoas em muitas partes do mundo, especialmente pessoas que nos apoiaram durante a luta. Elas estão chorando e dizendo:" África do Sul? Não pode ser! "

A filha de Tutu, Mpho, disse que as ações do governo não combinam com "o que sonhamos que seríamos, que esperávamos que nos tornaríamos como país e como povo". Claramente tomada pela emoção, ela acrescentou: com grande tristeza que estamos aqui sentados."

Uma vigília à luz de velas em frente ao Parlamento Sul-Africano em Cape Town, na segunda-feira, atraiu cerca de 250 pessoas exigindo que o líder espiritual tibetano fosse recebido no país. Houve amarga decepção na manhã de terça-feira quando foi anunciado que a viagem de oito dias tinha sido cancelada. Ativistas de direitos civis culparam o governo.

Ela Gandhi, que planejava entregar ao Dalai Lama com um Prêmio da Paz em nome de seu avô, Mahatma Gandhi, disse: "Estou muito desapontada. Estávamos ansiosos para ele chegar e entregar o prêmio. Eu realmente sinto a que a situação toda tenha sido tão mal conduzida. É descortês fazer uma pessoa da sua importância esperar por tanto tempo. Tratar uma pessoa de paz assim é errado. "

Ela acrescentou: "Todo mundo acha que isso é por causa da pressão da China. É muito triste permitir que um outro país dite termos ao nosso governo. Isto remonta aos tempos do apartheid, tenho vergonha do meu próprio país!"
 

Funcionários do ministério exterior Sul-Africano têm consistentemente negado as acusações de terem cedido à pressão de Pequim. Perguntado sobre sua reação à decisão do Dalai Lama, o porta-voz, Clayson Monyela, disse: "Nós não temos uma reação Ele cancelou sua viagem e é isso Nós não dissemos que não. Nós não recusamos seu visto; o visto ainda estava sendo processado. Foi apenas em 20 de setembro, que ele apresentou sua documentação completa. Em alguns países, um visto pode levar dois meses. Eu não sei porque as pessoas estão criticando o governo. "

O Dalai Lama visitou a África do Sul em 1996, reuniu-se com Nelson Mandela, mas foi impedido de assistir a uma
conferência no país há dois anos com laureados Nobel, quando o governo disse que sua visita iria atrapalhar os preparativos para a Copa do Mundo. Na época, Tutu disse que a decisão era vergonhosa, e acusou as autoridades de ceder às pressões da China.
A oposição oficial da África do Sul reforçou as críticas sobre o atraso do visto.
Stevens Mokgalapa, vice-chanceler para a Aliança Democrática, disse: "A conclusão inevitável é de que o governo Sul-Africano propositalmente retardou o Dalai Lama para tornar impossível sua viagem
Mas, atrasando [a decisão do visto] o governo fez a sua escolha: ele permitiu que a China determine a sua política externa. Este é um dia triste para aqueles de nós que acreditam em uma política externa baseada na soberania ubuntu [a filosofia humanista] e nos direitos humanos. Não é aceitável que o governo tenha permitido uma violação dessa soberania curvando-se à pressão de uma potência estrangeira. "
Enquanto o Dalai Lama é excluído, outros líderes ativistas internacionais irão se reunir por três dias nos eventos de aniversário. O vocalista do U2, Bono Vox, deverá participar do lançamento da biografia, "Tutu: O Retrato Autorizado", na Cidade do Cabo, na quinta-feira.
Bono também teria sido convidado para encontrar o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan, e o empresário britânico Richard Branson na sexta-feira, onde será realizada uma comemoração religiosa pública.

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