quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O DIÁLOGO SINO-TIBETANO: SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS

 Pronunciamento de Kelsang Gyaltsen, enviado de Sua Santidade o Dalai Lama à CONFERÊNCIA DO INTERGRUPO TIBETANO SOBRE AUTONOMIA GENUÍNA.
 
29 de Novembro de 2011, Parlamento Europeu, Bruxelas.
 
Primeiramente, deixem-me expressar minha sincera gratidão ao Intergrupo Tibetano (Tibet Intergroup)  do Parlamento Europeu por organizarem esta conferência sobre o Tibete, nesta hora. Esta conferência envia uma forte e inspiradora mensagem de profunda preocupação e solidariedade ao povo Tibetano dentro do Tibete, que atualmente vivem em estado constante de medo e terror.
 
No momento presente, o Tibete tornou-se uma enorme prisão - isolada do resto do mundo, onde as autoridades militares e de segurança chinesas exercitam livre reinado impunemente. Pouco mais que 20 anos atrás, povos aqui na Europa anida experienciavam vive sob regimes totalitários e repressivos. Aqueles dentre vocês que vem de onde chamamos "Europa Oriental" ainda devem carregar memórias vívidas da vida sob o domínio Comunista. Vocês conhecem, por experiência própria, a imensa importância de enviar ao povo oprimido a mensagem de que o mundo lá fora não os esqueceu, que se importa com seu sofrimento e que ficará a seu lado em sua luta por liberdade, justiça e dignidade humana. Vocês também entenderão o quão importantes e cruciais essas manifestações de preocupação, solidariedade e apoio tem sido na sustentação do espírito de esperança daqueles oprimidos. 
 
Esta conferência de hoje, no Parlamento Europeu, está, mais uma vez, enviando ao povo tibetano a mensagem de que o povo Europeu se importa com sua luta por liberdade e justiça. É uma grande fonte de coragem e inspiração para o povo do Tibete. Agradeço muito por esse gesto de profunda preocupação, apoio e solidariedade.
 
Minha tarefa nesta conferência é atualizá-los sobre o estado do diálogo Sino-Tibetano e seus prospectos.
 
Deixem-me começar delineando brevemente o princípio e espírito norteador da liderança Tibetana, nos quais a abordagem Tibetana ao diálogo Sino-Tibetano se baseia.
 
Sua Santidade O Dalai Lama sempre acreditou que a maior parte dos conflitos humanos pode ser resolvida por meio de diálogo genuíno, conduzido com espírito de abertura e reconciliação. Portanto, ele tem consistentemente buscado solucionar a questão do Tibete por meio de não-violência e diálogo. Com esse espírito, em 1988, neste Parlamento em Strasbourg, Sua Santidade o Dalai Lama apresentou uma proposta forma de negociações. A escola do Parlamento Europeu como palco para apresentar suas idéias foi proposital, visando destacar que a união genuína somente pode acontecer voluntariamente quando há respeito mútuo e benefícios satisfatórios para ambas as partes envolvidas. Sua Santidade o Dalai Lama vê a União Européia como um exemplo claro e inspirador disso.
 
Com essa proposta, Sua Santidade o Dalai Lama demonstrou sua disposição de não buscar independência na resolução da questão Tibetana. O espírito-guia da Proposta de Strasbourg é a busca de uma solução mutuamente aceitável, por meio de negociações com espírito de reconciliação e de abrir mão. Este espírito tornou-se conhecido como "Abordagem do Caminho do Meio" de Sua Santidade o Dalai Lama.
 
Sua Santidade o Dalai Lama e a liderança Ibetana tomaram a corajosa decisão de buscar autonomia genuína para o povo tibetano dentro das diretrizes da Constituição da República Popular da China (RPC). A Constituição contém princípios fundamentais sobre autonomia e auto-governo, cujos objetivos são compatíveis com as necessidades e aspirações dos Tibetanos. Baseados nisso, a liderança Tibetanda está confiante da habilidade de garantir os direitos básicos do povo Tibetano, salvaguardando sua cultura, língua, religião e identidade próprias, além do delicado meio-ambiente do planalto Tibetano.
 
Em 2002, quando foi restabelecido contato direto com a liderança chinesa, a liderança tibetana em exílio já havia formulado uma política clara sobre como levaríamos o processo de diálogo. O lado Tibetano tinha um único objetivo: buscar autonomia genuína para o povo tibetano sob uma único órgão, auto-governado, dentro das diretrizes da Constituição da RPC.  
 
Tenho a honra de serviri como um dos enviados de Sua Santidade o Dalai Lama, confiado à tarefa de conduzir os diálogos. Participamos de nove eventos formais de discussão e um encontro informal com os chineses desde 2002.
 
Tendo completa consciência da complexidade e dificuldade dos desafios à frente no processo de diálogo, as instruções da liderança Tibetana para a delegação Tibetana tem sido as seguintes:
 
- criar a necessária atmosfera de condução e condições para a manutenção e aprofundamento do contato;
- usar todas as oportunidades para desfazer mal-entendidos e más-interpretações sobre a posição e pontos de vista da liderança Tibetana em exílio;
- reiterar e explicar o fato de que Sua Santidade o Dalai Lama e a liderança Tibetana em exílio não estão buscando separação e independência para o Tibet;
- afirmar claramente nossa demanda por autonimia genuína para o povo Tibetando, dentro das diretrizes da RPC;
- propor a medidas que visem a construir confiança em áreas de mútuo interesse;
- estabilizar o processo de diálogo, aumentando o número de encontros, com uma assuntos e datas com que ambos os lados concordem. 
 
De acordo com essas orientações, desde a primeira rodada de discussões em 2002, propusemos que ambos os lados iniciassem medidas que ajudassem a construir confiança em nosso relacionamento. De nossa parte, tomamos imediatamente várias medidas que visavam a construir essa confiança. Também pedimos à liderança chinesa para demonstrar boa vontade, interrompendo as denúncias e retirando a banição à posse de fotografias de Sua Santidade o Dalai Lama. Também propusemos expandir nosso contato, permitindo visitas entre Tibetanos que vivem no exílio e no Tibet e organizando intercâmbios entre acadêmicos, instituições culturais e religiosas na RPC, assimcomo institutos na comunidade tibetana refugiada. Quando se tornou óbvio que havia diferenças muito grandes em vários assuntos entre as duas partes, incluindo questões fundamentais, propusemos nos concentrarmos em assuntos em que ambas as partes concordassem em cooperar e aumentar o número de encontros para duas ou três vezes por ano. Além disso, desde o começo de nosso contato, escrecemos para o Presidente Jian Zemin, explicando que a nossa missão era promocer encontros cara a casa de Sua Santidade o Dalai Lama com a liderança Chinesa. Tal encontro tem o potencial de gerar uma mudança verdadeira, abrindo um novo capítulo do relacionamento entre os povos tibetano e chinês. Consequentemente, fizemos essa porposta, de novo e de novo, em todos os encontros.
 
Para nossa profunda decepção, nenhuma de nossas sugestões e propostas foi adotada ou aceita pelo lado chinês. Nem os chineses tomaram iniciativas que visassem a construir confiança ou apresentaram suas sugestões ou propostas para darmos um passo além. Desde o início do diálogo, em 2002, o lado chinês vem adotando uma postura de não-reconhecimento, não-reciprocidade, não-concessão e não-abrir mão. Essa falta de vontade política por parte da liderança chinesa foi claramente demonstrada na oitava rodada de discussões, que aconteceu em novembro de 2008.
 
Em julho de 2008, durante a sétima rodada, o lado chinês explicitamente nos convicou a apresentar nossa visão sobre o grau ou forma de autonomia que estávamos buscando. Conforme combinado, em 31 de outubro de 2008  apresentamos nosso Memorando sobre Autonomia Genuína para o Povo Tibetano às autoridades chinesas. Nosso memorando apresenta em detalhes como necessidades específicas de auto-governo do povo tibetano podem ser correspondidas, por meio da aplicação dos princípios de autonomia, contidas na Constituição da RPC.
 
Infelizmente, o lado chinês rejeitou categoriamente o nosso memorando por inteiro, rotulando-o como uma proposta de "semi-independência" e "independência disfarçada". Eles afirmaram até que "até o título do memorando é inaceitável. Quantas vezes precisaremos dizer que o Dalai Lama não tem direito de falar sobre a situação no Tibete ou em nome no povo Tibetano?"
 
A última rodada de encontros ocorreu em Janeiro de 2010, em Beijing. Desde então, temos repetidamente solicitado encontro às contrapartidas chinesas, o mais rápido possível. Duas semanas atrás, em vista dos trágicos incidentes de auto-imolação e da situação geral de deterioração no Tibet, solicitamos com urgência que nossas contrapartidas em Beijing nos encontrassem o mais rápido possível, para explorarmos formas e meios de diluir e acalmar a situação no Tibete. No entanto, ainda estamos esperando por uma resposta positiva de Beijing.
 
A despeito das recentes mudanças históricas na liderança política do povo Tibetano, nosso novo líder democraticamente eleito, o Kalon Tripa Dr Lobsang Sangay deixou claro que a tarefa central do movimento tibetano continua sendo restaurar as liberdades básicas e dignidade do povo tibetano. Em declaração feita em 12 de outubro de 2011, ele frisou sua posição sobre os diálogos Sino-Tibetanos, dizendo: "... tenho afirmado consistentemente que uma das minhas primeiras prioridades como Kalon Tripa é fazer todo esforço possível para encontrar uma solução pacífica e negociada para a situação do Tibete. Mesmo durante minha campanha eleitoral, tornei claro o meu comprometimento com a Abordagem do Caminho do Meio de Sua Santidade o Dalai Lama e com o procerro de diálogo, reiniciado em 2002. Recentemente, tenho declarado, em várias ocasiões, nossa profunda preocupação com a situação no Tibete. Os incidentes são uma indicação clara do sofrimento genuíno dos Tibetanos e seu senso de profundo ressentimento e desespero em relação às condições atuais no Tibete. É portanto de extrema urgência que todo esforço possível seja feito para lidar com as causas que são raizes do sofrimento e ressentimento Tibetanos. Consequentemente, desejo reiterar meu firme comprometimento em encontrar uma solução mutuamente aceitável, dentro do espírito do Caminho do Meio. Tenho portanto solicitado aos dois enviados de Sua Santidade o Dalai Lama que façam esforços para retomar o diálogo na primeira oportunidade possível."
 
O diálogo Sino-Tibetano desde 2002 demonstra claramente que nós tibetanos ainda não temos um parceiro sincero e disposto para um diálogo honesto. Não podemos ir adiante quando apenas um de nós está totalmente comprometido e engajado. É nesse contexto que esta conferência é tão importante.
 
Nós Tibetanos precisamos de sua ajuda. Primeiro e antes de tudo, na abertura do Tibete para o rsto do mundo, para que as autoridades chinesas e forças de segurança não possam mais mandar livremente no Tibete. A presenã internacional terá uma influência restritiva nas autoridades e nas forças de segurança de nós, portanto, poderemos prover alguma forma de proteção aos Tibetanos cativos dentro do Tibete.
 
Finalmente, nós Tibetanos precisamos e um parceiro, do outro lado da negociação, que esteja disposto a ter um diálogo honesto, com o objetivo de encontrar uma solução justa e mutualmente aceitável. No mundo altamente independente de hoje, não cabe exclusivamente às autoridades chinesas decidir se o povo tibetano poderá desfrutar uma vida em liberdade e dignidade, ou se será forçado a viver sob repressão brutal e continuada. As políticas da União Européia em relação à causa do Tibete e da China tem igual peso no desfecho desta tragédia. A liderança chinesa precisa ser forçada a perceber que a questão do Tibete não pode ser suprimida e silenciada a menos que seja apropriadamente tratada e resolvida. É preciso uma mensagem forte e unificada, partindo dos membros da comunidade internacional sobre a questão do Tibete. A opinião mundial é de grande importância para a liderança chinesa. É nesse contexto que eu gostaria de expressar, mais uma vez, nosso grande apreciação ao fato de que o Parlamento Europeu tem liderando consistentemente a promoção de uma solução pacífica para a questão do Tibete.
 
Muito obrigado.
 
 
 
Tradução livre de Luciana Aguiar. 
Texto original pode ser lido aqui: http://www.tibet-envoy.eu/content/?p=577

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mensagem de Sua Santidade o Dalai Lama à Congregação Budista Global, Nova Delhi, 27 a 30 de novembro de 2011


28 de Novembro de 2011

Em 29 de novembro de 1956, por ocasião do  2.500° aniversário do Parinirvana do Buda, eu tive a oportunidade de encontrar líderes indianos e representantes de diversos países budistas aqui em Nova Delhi. Naquela época, eu fiz um relato detalhado sobre o desenvolvimento histórico do budismo no Tibete e sobre a excepcional relação indo-tibetana. Desde então, o mundo, incluindo Índia e Tibete, bem como as tradições budistas em diferentes países, tem testemunhado muitas mudanças. 

Até os últimos 50 anos ou mais, as diversas comunidades do mundo budista tinham apenas uma vaga idéia distante da existência uns dos outros e pouco apreço sobre o quanto elas tinham em comum. Como o ensinamento do Buda criou raízes em diferentes lugares, evoluíram naturalmente certas variações no estilo em que foi mantido e praticado. De fato, o próprio Buda deu ensinamentos diferentes de acordo com as predisposições de seus discípulos em diferentes momentos. O que distingue a nossa situação contemporânea é que quase todas as várias tradições budistas que evoluíram em diferentes lugares estão agora acessíveis a qualquer um que esteja interessado. Além do mais, aqueles de nós que estudam e praticam essas várias tradições budistas agora podem se encontrar e aprender uns com os outros.

O Buda Sakiamuni atingiu a iluminação em Bodhgaya há cerca de 2.600 anos, e eu acredito que seus ensinamentos permanecem originais e relevantes até hoje. Movido por uma preocupação espontânea em ajudar os outros, após sua iluminação, o Buda passou o resto de sua vida como um monge sem moradia, compartilhando sua experiência com aqueles que desejassem ouvir. Suas visões sobre a originação interdependente e sua recomendação de não causar mal a ninguém, mas ajudar a quem for possível, enfatizam a prática da não-violência. Isto continua sendo uma das forças mais potentes para o bem no mundo de hoje, pois não-violência é estar a serviço de todos os seres.

A renúncia de Sidarta - que escolheu viver uma vida sem ter onde morar - simboliza a prática de treinar a moralidade; os seis anos de ascetismo simbolizam seu treinamento em concentração; e atingir a iluminação através da prática de sabedoria sob a árvore Bodhi representa a importância de cultivar a sabedoria. O papel destes três treinamentos na vida do Buda ressalta sua importância na nossa prática diária. Para sermos capazes de levar estas práticas, temos que estudar os ensinamentos do Buda contidos no Tripitaka.

Em um mundo crescentemente interdependente nosso bem-estar depende de muitas outras pessoas. Outros seres humanos têm direito a paz e felicidade que é igual ao nosso; portanto temos a responsabilidade de ajudar aos que necessitam. Hoje, em um novo milênio, nosso mundo requer que aceitemos a unicidade da humanidade. Muitos dos nossos problemas e conflitos mundiais surgem porque perdemos a capacidade de enxergar a natureza humana básica que conecta todos nós como uma família humana. Nós esquecemos que, à despeito das diferenças superficiais entre nós, as pessoas são iguais em seu desejo básico por paz e felicidade. Parte da prática budista envolve treinar nossas mentes através da meditação. Mas para o nosso treinamento para acalmar a mente, para desenvolver qualidades como amor, compaixão, generosidade e paciência ser efetivo, temos que colocá-lo em prática no nosso dia-a-dia. Ainda que o nosso mundo continue a se desenvolver materialmente, há uma necessidade crescente similar no nosso senso de valores internos. O século XX foi um século de guerra e violência; agora precisamos trabalhar para vermos que o século XXI é um século de paz e dialogo. Nós budistas podemos contribuir com isso aprendendo com outras tradições religiosas e compartilhando qualidades típicas da nossa própria tradição.
Há grande ênfase na prática de amor e compaixão nos ensinamentos do Buda, bem como nos ensinamentos de outras tradições espirituais, mas é importante reconhecer que amor e compaixão são fundamentais para as relações entre seres sencientes em geral e entre seres humanos em particular. Eu acredito que não devemos mais falar sobre ética budista, ética hindu, cristã ou muçulmana, porque esses valores são universais. O Budismo não explica a virtude de valores como honestidade e integridade de uma forma diferente de como o Cristianismo ou o Islamismo a explica. Por isso, nos últimos anos, tenho achado mais apropriado falar sobre a necessidade de promover uma ética secular. Refiro-me a esses valores como ética secular porque acreditar numa religião ou em outra ou não ter crença em nenhuma delas não afeta a necessidade que temos de tais valores. O fundamento básico da humanidade é amor e compaixão. É por isso que se mesmo poucos indivíduos que simplesmente tentarem criar paz mental e felicidade em si próprios e agir com responsabilidade e amorosidade em relação aos outros, estes poderão ter uma influência positiva em sua comunidade. Eu acredito que o Budismo tem mesmo um papel especial a desempenhar no nosso mundo moderno. Isso porque, diferente de outras religiões, unicamente o Budismo propõe o conceito de interdependência, que está intimamente de acordo com a ciência moderna. Nós podemos pensar no Budismo em termos de três categorias: filosofia, ciência e religião. A parte religiosa envolve princípios e práticas que dizem respeito apenas aos budistas, mas a filosofia budista de interdependência bem como a ciência budista sobre a mente e as emoções humanas são de grande benefício a qualquer um. Como sabemos, a ciência moderna tem desenvolvido um entendimento altamente sofisticado do mundo físico, incluindo trabalhos sutis sobre corpo e cérebro. A ciência budista por outro lado, tem se dedicado a desenvolver um conhecimento detalhado e em primeira-pessoa sobre muitos aspectos da mente e das emoções, áreas ainda relativamente novas para a ciência moderna. Cada uma delas tem portanto conhecimentos cruciais que se complementam. Eu acredito que a síntese dessas duas abordagens tem grande potencial para levar a descobertas que enriquecerão nosso bem-estar físico, emocional e social.

Embora a tradição contemplativa budista e a ciência moderna tenham evoluído a partir de raízes culturais, intelectuais e históricas diferentes, eu acredito que em essência elas compartilham de interesses comuns significativos, especialmente na perspectiva filosófica básica e em metodologia. Do ponto de vista filosófico, o Budismo e a ciência moderna compartilham a mesma visão sobre a ausência dos absolutos, seja descritos como um ser transcendente, como uma entidade eterna imutável ou como um substrato fundamental de realidade. Tanto o budismo quanto a ciência preferem descrever a evolução e emergência do cosmos e da vida em termos de interrelações complexas de leis naturais de causa e efeito. De uma perspectiva metodológica, ambas as tradições enfatizam o papel do empirismo.

Por exemplo, na tradição investigativa budista, entre as três fontes reconhecidas de conhecimento – experiência, razão e testemunho – é a evidência da experiência que tem precedência, vindo a razão em segundo e o testemunho por último. Isto significa que na investigação budista da realidade, ao menos em princípio, a evidência empírica deveria triunfar sobre a autoridade das escrituras, não importando quão profundamente venerada uma escritura possa ser. Mesmo na caso de conhecimento derivado da razão ou inferência, sua validade deve derivar em última instância de fatos observados na experiência.
O motivo primário subjacente à investigação budista da realidade é a busca pela superação do sofrimento e pelo aperfeiçoamento da condição humana; portanto, a tradição investigativa budista tem se direcionado primariamente à compreensão da mente humana e suas várias funções. Nosso objetivo ao buscar formas de transformar nossos pensamentos, emoções e propensões ocultas é encontrar uma forma de viver mais virtuosa e gratificante. Então, um intercâmbio genuíno entre o conhecimento e experiência acumulados do Budismo e da ciência moderna pode ser profundamente interessante e potencialmente benéfico.

Em minha própria experiência, tenho me sentido profundamente enriquecido por engajar em conversas com neurocientistas e psicólogos sobre questões como a natureza e papel das emoções negativas, atenção, imaginário, bem como a plasticidade do cérebro. Sou grato aos inúmeros eminentes cientistas com quem eu tive o privilégio de participar em diálogos que têm continuado por estes anos sob os auspícios do “Mind and Life Institute”, cujas conferências anuais se iniciaram em 1987 em minha residência em Dharamsala, India.

É claro que a maioria das pessoas sente que sua própria prática religiosa é a melhor. Eu mesmo sinto que o Budismo é o melhor para mim. Mas isto não significa que o Budismo seja o melhor para todos. O importante é o que é adequado para uma pessoa ou um grupo de pessoas em particular. A religião, para a maioria de nós, depende da nossa formação familiar e de onde nascemos e fomos criados. Eu penso que geralmente é melhor não mudar. No entanto, quanto mais entendemos os meios uns dos outros, mais podemos aprender. Declarando meu respeito por todas as fés religiosas, eu não advogo a tentativa de unificar as várias tradições. Eu acredito firmemente que precisamos de diferentes tradições religiosas para atender necessidades e disposições mentais da grande variedade de seres humanos. Todas as principais tradições religiosas fazem do tornar a humanidade melhor sua principal preocupação e todas levam a mesma mensagem. Quando as vemos como instrumentos essenciais para desenvolver boas qualidades humanas como compaixão, tolerância, perdão e auto-disciplina, podemos apreciar o que têm em comum.

Eu estou convencido de que o obstáculo mais significativo à harmonia interreligiosa é a falta de contato entre as diferentes comunidades religiosas e consequentemente a falta de apreciação mútua de seus valores.  No entanto, neste mundo de hoje crescentemente complexo e interdependente, temos que reconhecer a existência de outras culturas, grupos étnicos diferentes e, é claro, de outras fés religiosas. Quer gostemos ou não, a maioria de nós vivencia a diversidade diariamente.

Até mesmo entre as várias tradições budistas que vieram a surgir em diferentes tempos e lugares, há aqueles que vêem a coleção de escrituras preservadas em pali como sua fonte e aqueles que consideram a tradição em sânscrito. Eu acredito que é chegado o tempo da comunicação livre uma com a outra, daqueles que consideram a tradição pali em dialogo com os que consideram a tradição sânscrita. Afinal, todos os diferentes ramos vêm de raízes e troncos comum. Como monge tibetano, ainda hoje considero a mim mesmo como um estudante da tradição Nalanda. A forma que o Budismo foi estudado e ensinado na Universidade de Nalanda representa o zênite de seu desenvolvimento na Índia. Se quisermos ser Budistas do século XXI é importante nos engajarmos no estudo e análise dos ensinamentos do Buda, como tantos fizeram até então, ao invés de simplesmente confiarmos na fé.

Portanto, o estudo e prática dos ensinamentos do Buda são necessários para preservá-los e promovê-los. A Sanga desempenhou um papel central nisso nos tempos do Buda e fico feliz pela tradição continuar até os dias de hoje. Consequentemente, é importante que os membros da comunidade monástica mantenham seus votos para sustentar a pureza do Buda Darma.

No passado, dada a natureza dos diferentes cenários sob os quais o Buda Darma floresceu em nossas diferentes sociedades, não havia muitas oportunidades para os Budistas se reunirem e discutir questões de interesse comum. Esta congregação tem provido uma oportunidade crucial muito necessária. Agora e no futuro precisamos encorajar e promover o intercâmbio de conhecimentos e experiência entre as diferentes tradições e melhorar a comunicação entre nós. Espero que esta seja a primeira de muitas dessas ocasiões que nos permita promover um melhor entendimento e contribua de forma mais efetiva para a felicidade humana e paz mental por todo o mundo. Por ocasião do 2.600° aniversário da iluminação do Buda em Bodhgaya, eu ofereço meus cumprimentos a esta eminente Congregação Budista Global.

25 de Novembro de 2011 

Tradução livre de Jeanne Pilli

http://dalailama.com/news/post/767-message-of-his-holiness-the-dalai-lama-to-the-global-buddhist-congregation-new-delhi-november-27---30-2011

“O espírito Tibetano continua forte”, diz o Kalon Tripa

Phayul, domingo, 27 de novembro de 2011.
Por Tenam

PARIS, 26 de novembro: Em parada de apenas um dia, o líder Tibetano democraticamente eleito Lobsang Sangay encontrou com oficiais do Ministério do Exterior Francês e do Grupo de Estudos Tibetanos do Senado Francês. Depois, à tarde, o Kalon Tripa falou à comunidade Tibetana na França.

“O objetivo deste 14º Kashag (gabinete) é a restauração da liberdade no Tibete e a volta de Sua Santidade o Dalai Lama ao Tibete”, ele reafirmou. Como chefe da administração no exílio seus deveres também incluem o “bem estar das comunidades de exilados tibetanos” e “a prioridade número um neste particular é a Educação”.

O 14º Kashag, que chegou à marca de seus primeiros 100 dias essa semana, tem sido “um dos mais ocupados Kashag da recente memória”, disse o Dr. Sangay.

“A despeito do financeiro, infraestrutural e de outros desafios, eu gostaria de lembrar aos compatriotas no exterior que há pessoas muito dedicadas, trabalhadoras e comprometidas em Dharamshala”, ele disse, clamando ao povo Tibetano estabelecido na França para dar uma ajuda.

“Foi inspirador encontrar com o Kalon Tripa. Hoje, sinto-me orgulhoso como jovem Tibetano por termos alguém como ele para nos representar”, disse Migmar, um Tibetano que mora na França.

Mais tarde, o líder Tibetano foi recebido na Prefeitura do do 11º Distrito de Paris, que hasteou a bandeira nacional Tibetana em honra dele. Lá, o Dr. Sangay participou de uma conferência de imprensa e encontrou-se com membros de vários grupos Franceses de apoio ao Tibete.

Agradecendo a eles pelo contínuo apoio, o Kalon Tripa disse que a despeito da dura realidade no Tibete, “o espírito dos Tibetanos, tanto dentro quanto fora do Tibete, continua muito forte”.

“Nós começamos essa jornada pela Liberdade do Tibete e nunca iremos desistir. Eu estou absolutamente certo de que iremos alcançar o nosso destino. Então, estaremos juntos para celebrar o dia em que os Tibetanos de dentro e de fora do Tibete estarão reunidos”, ele disse.

“Esta será a melhor história deste século”, ele disse clamando aos apoiadores do Tibete para também não desistirem de sua esperança.

Quando perguntado sobre qual seria sua mensagem ao Presidente Francês, o Kalon tripa ressaltou a importância de uma mensagem clara de apoio do governo na situação dentro do Tibete.

“Eu vim aqui hoje para manifestar meu apoio ao Primeiro Ministro democraticamente eleito do Tibete. Eu penso que é muito importante, como Francês, apoiar o Tibete”, disse Jean-Marie, apoiador Tibetano há muito tempo.

“Para mim é uma imensa honra receber o Primeiro Ministro Tibetano em minha Prefeitura”, disse Patrick Bloche, Prefeito e membro do Parlamento Francês.

O líder Tibetano está fazendo uma rápida turnê pela Europa. Sua próxima parada será em Bruxelas, aonde ele irá comparecer a uma “Conferência do Tibete sobre Autonomia Genuína” no Parlamento Europeu. Sua viagem se concluirá com uma visita à Inglaterra.

Este texto é uma tradução livre de Bruno Arrais de Mendonça (brunoarrais@gmail.com).   http://www.phayul.com/news/article.aspx?id=30423.

domingo, 27 de novembro de 2011

Falece o Chefe do Comitê de Busca do Panchen Lama

11o Panchen Lama - o preso político mais jovem da história
DHARAMSALA: Jadrel Jampa Trinley Rinpoche, o presidente do comitê de busca do 11o. Panchen Lama, que permeceu desaparecido depois de cumprir uma pena de 6 anos de prisão desde 2002por suportamente revelar segredos do caso ao mundo exterior, morreu com 72 anos, segundo informações provenientes do Tibete.

Em 17 de julho de 1005, ele foi preso e sentenciado a 6 anos de prisão quando recusou o plano do governo de impor sua própria eleição da encarnação do Panchen Lama.

Jadrel Rinpoche cumpriu sua pena na prisão de Chuandong na província chinesa de Sichuan de 1995 a 2002, durante a qual se pôs em greve de fome uma vez para protestar contra o veredito injusto frente ao governo chinês

O governo chinês violou sua própria lei ao manter Jadrel Rinpoche em detenção secreta sem cometer nenhum crime adicional. Seu apradeiro permanceu desconhecido até completar sua pena em 2001/2002.

O informe sobre a morte de Jadrel Rinpoche, aparentemente por envenenamento, foi revelado em uma gravação de um colaborador próximo, um alto oficial que trabalha na Associação de Budismo Tibetano. A revelação foi corroborada pelo fato de seu paradeiro ter permanecido desconhecido por cerca de 10 anos.

Jadrel Rinpoche nasceu em Namling, Shigatse e serviu como diretor do Monastério de Tashi Lhunpo, tradicional dos Panchen Lama.
 
Em novembro passado, outro alto funcionário tibetano do comitê de busca, Jampa Chungla, sucumbiu a uma doença depois de haver se nagado a assistência médica durante o longo período de encarceramento e prisão domiciliar. O envolvimento de Jampa Chungla na busca do 11o.Panchen Lama começou em 1989 quando foi designado como secretário geral do comitê encabeçado por Jadrel Rinpoche. Desde 1990 ele fez grandes esforços em ajudar Jadrel Rinpoche no processo de busca.

Gedun Choekyi Nyima, um garoto de 6 anos idetificado por Sua Santidade o Dalai Lama como o 11o.Panchen Lama, desapareceu em 17 de maio de 1995, dois meses antes da prisão de Jadrel Rinpoche. O governo chinês logo admitiu que estava com o garoto e sua família em “custódia protetora”.

Apesar dos repetidos pedidos para ter acesso à criança, nenhuma agência internacional ou organização de direitos humanos teve permissão para ter contato com o jovem Panchen Lama uo sua familia. Até o momento,
permanecemos sem informação sobre seu paradeiro e estado de saúde.

China se opõe a encontro com Dalai Lama, suspende conversações sobre fronteiras

NOVA DELHI: A China exigiu que a Índia cancelasse uma conferência budista em Delhi com a participação do Dalai Lama. A conferência coincidiu com as negociações de fronteiras entre Dai Bingguo e Menon Shivshankar que também seria realizada aqui. A Índia se recusou. A China cancelou as negociações.

Na semana passada, a China enviou uma mensagem para a Índia, pedindo que o governo impedisse o Dalai Lama de falar na conferência budista na Capital nacional. O governo surpreso disse que o Dalai Lama era um líder espiritual e livre para falar sobre assuntos espirituais, recusando-se a concordar com o pedido da China.

Os chineses subiram as apostas, exigindo que o governo indiano cancelasse a conferência. A Índia se recusou a cumprir, dizendo que esta erai uma conferência espiritual e que a liberdade era essencial em Nova Delhi. O lado indiano prometeu total segurança aos delegados chineses. Pequim se recusou e cancelou as negociações. Embora as autoridades chinesas tenham dito que retomariam as conversações em breve, a Índia reagiu com frieza. A bola, segundo fontes, está com o tribunal de Pequim.

Para uma liderança comunista chinesa em plena transição de liderança, ver Dai Bingguo respirando o mesmo ar que o Dalai Lama pode não agradar. Fontes disseram que, esta poderia ter sido a razão para a China cancelar as negociações.

A abordagem chinesa parecia ter endurecido após a recente reunião de cúpula do Leste Asiático em Bali, onde eles mostraram sua desaprovação com relação à presença da Índia no Mar da China Meridional. Nos últimos meses, a China impediu com
sucesso o que o Dalai Lama estivesse presente em um evento na África do Sul, pressionando o governo Sul-Africano.

A conferência budista, organizada pela Missão Ashoka, será realizada de 27-30 novembro para comemorar 2, 600 anos da iluminação de Buda e receberá estudiosos e pensadores de 32 países. Estão planejados encontros de todas as religiões, um dhamma
yatra, etc. A conferência está sendo realizada na Índia por causa da posição única do país como o berço do budismo.

O budismo é também um novo elemento da política da indiana "Look East", com a Universidade de Nalanda, Nova Deli tem integrado com sucesso o seu "soft power" com a religião de engajar os países do sudeste asiático, assim como China, Japão, Mongólia e Coréia. Se a Índia agisse contra a conferência, no último momento, seria contraproducente, além da ira coletiva por não ter resistido à pressão chinesa.

Além da China ter prometido US $ 1 milhão para a Universidade Nalanda,  também propôs uma "
Projeto Lumbini" em Lumbini, no Nepal, onde nasceu o Buda. No início deste ano, a organização chinesa que acredita-se estar perto da elite do partido, havia prometido um investimento de US$ 3 bilhões em Lumbini (equivalente a mais ou menos a 10% do PIB do Nepal), com um aeroporto, hotéis, estradas e uma universidade.

Embora aparentemente inócuo, a Índia suspeita que isto poderia ser utilizado para promover líderes
budista amigos da China em todas as três principais escolas do budismo - Mahayana, Hinayana e budismo tibetano. Sob pressão indiana, o Nepal concordou em cortar as ligações chinesas para o projeto. Fontes locais disseram que a China queria Lumbini como ponto focal para os budistas do mundo. Atualmente, budistas viajam para a Índia para encontrar o Dalai Lama e visitar Sarnath e Bodhi Gaya. Além disso, através de um projeto como Lumbini, a China calcula que seria mais fácil "controlar" a religião e os religiosos.

A China é um estado comunista e suas tradições budistas permanecem vivas e bem. Relatórios recentes dizem queXi Jinping, possível sucessor de Hu Jintao no próximo ano, nasceu de uma mãe budista, próxima ao Dalai Lama, e que recebeu até mesmo ritos fúnebres budistas. No entanto, como o chefe do partido no próximo ano, Xi adotou uma posição dura sobre o Tibete, prometendo acabar com o  "separatismo"tibetano.

A dissonância recente entre a Índia e a China estendeu-se a tudo, desde a exploração de petróleo no Mar da China Meridional até questões de fronteira,
sinecuras pós-aposentadoria para os diplomatas e vistos chineses  para Caxemires.

Tradução livre de Jeanne Pilli 

http://timesofindia.indiatimes.com/india/China-objects-to-Dalai-meet-calls-off-boundary-talks/articleshow/10886307.cms

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O brando poder e a história da China na América Latina


O estrondoso sucesso econômico da China chamou a atenção da América Latina para uma história esperando para ser contada

A expressão espanhola "cuento chino", ou "conto chines" é um sinônimo de "história absurda". É uma expressão adequada para os nossos tempos, uma vez que o tamanho da população da China, e os espetaculares avanços econômicos nos últimos tempos, têm inspirado grandes fantasias em toda a América Latina.

Há apenas uma década atrás, a China era a
sétima maior economia do mundo. Agora, pela previsão do Fundo Monetário Internacional, a China ultrapassará os Estados Unidos e se tornará a maior economia do mundo em 2016.

Não é de admirar o mundo em desenvolvimento esteja subjugado. também uma prontidão vigente para aceitar e imitar a China, o que por sua vez deu à China uma oportunidade de ouro para ampliar seu brando poder cultural no exterior. De fato, promover o poder brando no exterior tem sido um objetivo político declarado recentemente pelo governo chinês. A iniciativa reconhece que o sucesso de uma nação no cenário mundial, como Joseph Nye da Universidade de Harvard, uma vez disse, "não depende apenas de quem são os exércitos que venecem, mas também de quem é história que vence."


Sim, a história é importante. Agora, a China precisa de uma narrativa convincente.

A
atração China-América Latina  é fácil de entender. A China oferece um modelo de crescimento como um contrapeso aos Estados Unidos. Países latino-americanos têm tentado modelos de desenvolvimento que tem falhado um após o outro, como forma de se encontrar, ao contrário das economias dinâmicas da Ásia Oriental presas em uma rotina de crescimento lento.

As políticas de substituição de importações desses países
conduzida pelo Estado levou-os a um  isolamento auto-imposto e ineficiências. Políticas neoliberais, de acordo com o Consenso de Washington levou à dependência de entrada de capital inconstante.

O sucesso econômico da China, conseguido através de liberalização econômica controlada e expandindo as capacidades técnicas, a fim de atrair investimentos estrangeiros, oferece uma alternativa viável.

Na segunda metade do século 20, a doutrina de
guerrilha de Mao Zedong  - que brilhou como um farol guiando os revolucionários fervorosos na América do Sul - desapareceu na selva andina. Mas desde o lançamento de sua transformação capitalista, a China tem evitado as exportações ideológicas.  Mantém cuidadosamente uma distância segura da política de esquerda na Venezuela e na Bolívia, ao aderir a políticas mercantilistas: Fazendo negócio pelo negócio ".

Países latino-americanos que hoje contam com a China como parceiro comercial número 1, como o Brasil, Chile e Peru, têm beneficiado muito através compras de mercadorias chinesas, aumentando as receitas de exportação e os ajudou a superar a crise financeira de 2008. Em contraste, os países muito dependentes dos Estados Unidos, como México, ficaram mais feridos do que outros durante essa crise recente. Com a economia dos EUA em recessão, a China, com muito dinheiro na mão, está agora em uma posição única para investir em projetos de capital intensivo.

O "conto chines" é mais relevante do que nunca neste ano em meio à agitação sobre um projeto de ferrovia de 8 bilhões de dolares projetada para ligar duas cidades colombianas: o porto de Cartagena sobre o Mar do Caribe, e Buenaventura, no Oceano Pacífico. Isso seria um feito com uma engenharia que indiscutivelmente os chineses poderiam realizar: Uma estrada de ferro de 220 quilômetros em várzeas e três cadeias de montanhas, e através de uma região marcada por tráfico de drogas e violência.

Os planos do projeto ferroviário despertou especulação sobre a intenção da China alguns disseram ter sido uma incursão ousada no quintal da América. A história ficou mais intrigante quando a ferrovia começou a ser chamado de "canal seco", por aqueles que supuseram que navios seriam transportados em vagões de mar a mar.
 

A paixão pela China, no entanto, pode rapidamente se transformar em antipatia. A China pode ser uma potência econômica , mas dificilmente pode ser chamado de um gigante gentil. É realmente um monstro voraz, devorando petróleo, minerais e recursos naturais, causando estragos no meio ambiente, alegremente emitindo quantidades inaceitáveis ​​de dióxido de carbono que provoca o aquecimento global.

A China como a fábrica do mundo, desperta medo e ressentimento, pois mais de 90 por cento das exportações de manufaturados da América Latina estão ameaçados pela concorrência chinesa. Não é de admirar cerca de 60 por cento de todos os casos anti-dumping contra a China submetidosàa Organização Mundial do Comércio foram apresentadas por países latino-americanos.

As percepções da América Latina sobre a China ainda são em grande parte moldadas pela mídia internacional.

Uma mulher colombiana que encontrei recentemente disse que ela está interessada em aprender a língua chinesa, mas confessa que é mais atraída pelo budismo tibetano do que pelos ensinamentos morais doantigo sábio Confúcio. Nos países predominantemente católicos, a China como um país ateu não é muito bem vista.

A ligação entre China e América Latina exige uma narrativa que ressoe. Para um país de 1,3 bilhão de pessoas com um PIB per capita não superior ao da Colômbia ou do Peru, China tem experiências e esperanças futuras para serem contadas a outras economias emergentes. Encontrar a história certa será crucial para a política de poder brando ter sucesso. Caso contrário, o jogo será perdido antes mesmo de começar.

Nailene Chou Wiest ensina jornalismo financeiro na Escola de Jornalismo e Comunicação em Tsinghua University



Tradução livre de Jeanne Pilli


http://english.caixin.cn/2011-11-09/100324170.html


 

Exibição Pública de retrato do Dalai Lama no Tibete



Por Tendar Tsering



DHARAMSALA, 22 de novembro de 2011.



Um grande retrato de Sua Santidade o Dalai Lama juntamente com duas bandeiras tibetanas foram vistos expostos sobre o telhado do monastério Ragya em Amdo Golok, Tibete oriental, no domingo.



Ao falar para Phayul, Gadhen, um monge tibetano do monastério Sera no sul da Índia, que anteriormente era monge no monastério Ragya no Tibete, disse que o retrato do Dalai Lama juntamente com as bandeiras tibetanas estava sendo vistos por muitos, pendurados sobre o telhado do monastério.



“Foram deixados lá exibidos por algum tempo antes de os Oficiais Chineses da localidade vir e levarem o retrato e as bandeiras tibetanas”, Gadhen disse.



Slogans também foram, de acordo com relatos, escritos sob o retrato e as bandeiras nacionais tibetanas, os quais são ambos proibidos no Tibete ocupado pela China.



Citando contatos no Tibete, o antigo Monge de Ragya relatou a Phayul que testemunhas visuais não poderiam confirmar uma leitura clara dos slogans. Quando perguntado se a polícia chinesa teria prendido alguém do monastério ligado ao protesto, Gadhen respondeu negativamente.



Em 2009, Ragya testemunhou protestos contra a China em seguida ao suicídio do monge de 28 anos de idade Tashi Sangpo.



O monastério Ragya foi completamente interditado e muitos de seus monges foram detidos depois que panfletos contendo mensagens políticas circularam e uma enorme bandeira nacional tibetana foi hasteada sobre o principal salão de oração em 10 de março daquele ano.



A morte de Tashi Sangpo deu início a protestos em Ragya com os tibetanos indo às ruas carregando bandeiras nacionais tibetanas e cantando slogans “independência para o Tibete” e “vida longa para o Dalai Lama”.



Desde março deste ano, 11 tibetanos atearam fogo aos próprios corpos, protestando contra a contínua ocupação do Tibete pela China e demandando o retorno do Dalai Lama do exílio.

Este texto é uma tradução livre de Bruno Arrais de Mendonça (brunoarrais@gmail.com).