terça-feira, 22 de novembro de 2011

O brando poder e a história da China na América Latina


O estrondoso sucesso econômico da China chamou a atenção da América Latina para uma história esperando para ser contada

A expressão espanhola "cuento chino", ou "conto chines" é um sinônimo de "história absurda". É uma expressão adequada para os nossos tempos, uma vez que o tamanho da população da China, e os espetaculares avanços econômicos nos últimos tempos, têm inspirado grandes fantasias em toda a América Latina.

Há apenas uma década atrás, a China era a
sétima maior economia do mundo. Agora, pela previsão do Fundo Monetário Internacional, a China ultrapassará os Estados Unidos e se tornará a maior economia do mundo em 2016.

Não é de admirar o mundo em desenvolvimento esteja subjugado. também uma prontidão vigente para aceitar e imitar a China, o que por sua vez deu à China uma oportunidade de ouro para ampliar seu brando poder cultural no exterior. De fato, promover o poder brando no exterior tem sido um objetivo político declarado recentemente pelo governo chinês. A iniciativa reconhece que o sucesso de uma nação no cenário mundial, como Joseph Nye da Universidade de Harvard, uma vez disse, "não depende apenas de quem são os exércitos que venecem, mas também de quem é história que vence."


Sim, a história é importante. Agora, a China precisa de uma narrativa convincente.

A
atração China-América Latina  é fácil de entender. A China oferece um modelo de crescimento como um contrapeso aos Estados Unidos. Países latino-americanos têm tentado modelos de desenvolvimento que tem falhado um após o outro, como forma de se encontrar, ao contrário das economias dinâmicas da Ásia Oriental presas em uma rotina de crescimento lento.

As políticas de substituição de importações desses países
conduzida pelo Estado levou-os a um  isolamento auto-imposto e ineficiências. Políticas neoliberais, de acordo com o Consenso de Washington levou à dependência de entrada de capital inconstante.

O sucesso econômico da China, conseguido através de liberalização econômica controlada e expandindo as capacidades técnicas, a fim de atrair investimentos estrangeiros, oferece uma alternativa viável.

Na segunda metade do século 20, a doutrina de
guerrilha de Mao Zedong  - que brilhou como um farol guiando os revolucionários fervorosos na América do Sul - desapareceu na selva andina. Mas desde o lançamento de sua transformação capitalista, a China tem evitado as exportações ideológicas.  Mantém cuidadosamente uma distância segura da política de esquerda na Venezuela e na Bolívia, ao aderir a políticas mercantilistas: Fazendo negócio pelo negócio ".

Países latino-americanos que hoje contam com a China como parceiro comercial número 1, como o Brasil, Chile e Peru, têm beneficiado muito através compras de mercadorias chinesas, aumentando as receitas de exportação e os ajudou a superar a crise financeira de 2008. Em contraste, os países muito dependentes dos Estados Unidos, como México, ficaram mais feridos do que outros durante essa crise recente. Com a economia dos EUA em recessão, a China, com muito dinheiro na mão, está agora em uma posição única para investir em projetos de capital intensivo.

O "conto chines" é mais relevante do que nunca neste ano em meio à agitação sobre um projeto de ferrovia de 8 bilhões de dolares projetada para ligar duas cidades colombianas: o porto de Cartagena sobre o Mar do Caribe, e Buenaventura, no Oceano Pacífico. Isso seria um feito com uma engenharia que indiscutivelmente os chineses poderiam realizar: Uma estrada de ferro de 220 quilômetros em várzeas e três cadeias de montanhas, e através de uma região marcada por tráfico de drogas e violência.

Os planos do projeto ferroviário despertou especulação sobre a intenção da China alguns disseram ter sido uma incursão ousada no quintal da América. A história ficou mais intrigante quando a ferrovia começou a ser chamado de "canal seco", por aqueles que supuseram que navios seriam transportados em vagões de mar a mar.
 

A paixão pela China, no entanto, pode rapidamente se transformar em antipatia. A China pode ser uma potência econômica , mas dificilmente pode ser chamado de um gigante gentil. É realmente um monstro voraz, devorando petróleo, minerais e recursos naturais, causando estragos no meio ambiente, alegremente emitindo quantidades inaceitáveis ​​de dióxido de carbono que provoca o aquecimento global.

A China como a fábrica do mundo, desperta medo e ressentimento, pois mais de 90 por cento das exportações de manufaturados da América Latina estão ameaçados pela concorrência chinesa. Não é de admirar cerca de 60 por cento de todos os casos anti-dumping contra a China submetidosàa Organização Mundial do Comércio foram apresentadas por países latino-americanos.

As percepções da América Latina sobre a China ainda são em grande parte moldadas pela mídia internacional.

Uma mulher colombiana que encontrei recentemente disse que ela está interessada em aprender a língua chinesa, mas confessa que é mais atraída pelo budismo tibetano do que pelos ensinamentos morais doantigo sábio Confúcio. Nos países predominantemente católicos, a China como um país ateu não é muito bem vista.

A ligação entre China e América Latina exige uma narrativa que ressoe. Para um país de 1,3 bilhão de pessoas com um PIB per capita não superior ao da Colômbia ou do Peru, China tem experiências e esperanças futuras para serem contadas a outras economias emergentes. Encontrar a história certa será crucial para a política de poder brando ter sucesso. Caso contrário, o jogo será perdido antes mesmo de começar.

Nailene Chou Wiest ensina jornalismo financeiro na Escola de Jornalismo e Comunicação em Tsinghua University



Tradução livre de Jeanne Pilli


http://english.caixin.cn/2011-11-09/100324170.html


 

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