sábado, 19 de novembro de 2011

Líder tibetano chama o Ocidente a se manifestar sobre a repressão

 
Dharamsala, sexta-feira, 18 de novembro de 2011.

Mesmo sob as melhores condições, assumir um papel previamente ocupado por um deus vivo deveria requerer uma íngreme curva de aprendizado. Mas menos de 100 dias após Lobsang Sangay ter sido eleito “primeiro ministro” do governo tibetano no exílio, as autoimolações de pelo menos 11 tibetanos o confrontaram com um desafio único.

“É uma cadeia de acontecimentos sem precendentes, uma após a outra. Você recebe essas ligações, cedo de manhã ou tarde da noite... mais um tibetano se autoimolou”, ele disse em uma entrevista em seu gabinete em Dharamsala, lar da comunidade tibetana na Índia desde que o Dalai Lama fugiu do Tibete em 1959. “Você na verdade não sabe de nada, não tem nenhuma imagem, ou tem duas ou três. E quando você as vê, são horríveis. Como pode um ser humano ser levado a uma situação de desespero tal que o faz concluir que é melhor desistir da vida˜?

Após sua eleição o Sr. Sangay, que nasceu na Índia e educou-se nos EUA, foi obrigado a desistir de sua existência como um acadêmico de Harvard e mudar-se, fisica e mentalmente, para a comunidade de refugiados de Dharamsala para assumir a luta por uma “autonomia significativa para o Tibete”. Sua esposa e filho se juntarão a ele, diz, assim que tenha terminado de instalar o isolamento térmico e o novo piso da casa.

O Sr. Sangay diz que apesar de não ter conhecimento dos detalhes completos, não acredita que as imolações estivessem sendo organizadas. Ao invés, disse, as pessoas estavam reagindo à repressão e autoritarismo das autoridades chinesas. Ele disse que Pequim tem buscado culpar pessoas como ele pelo que aconteceu.

Aos 43 anos de idade, ele foi eleito como representante da plataforma conhecida como ”caminho do meio”, anteriormente seguida pelo Dalai Lama, que focava na tentativa de garantir direitos humanos e religiosos aos 5,5 milhões de tibetanos dentro do Tibete, em vez de independência da China. O movimento tem acatado amplamente os anseios do Dalai Lama, e o Sr. Sangay diz não acreditar que as imolações seriam uma forma de rejeição a uma abordagem moderada. Contudo, alguns tibetanos mais jovens prefeririam algo mais direto e urgente. ˜Eu entendo a frustração porque não houve progresso˜, diz o Sr. Sangay, tendo sido ele mesmo anteriormente um delegado no Congresso da Juventude Tibetana.

A decisão tomada pelo Dalai Lama de separar seus papéis religioso e político, algo que nunca havia acontecido antes, significa que o Sr. Sangay tem um papel oficial aos olhos dos governos e oficiais estrangeiros. Contudo, o lobby chinês faz com que poucos lideres estrangeiros aceitem se encontrar com ele uma vez que não é reconhecido como autoridade religiosa, assim como o Dalai Lama o é. Mês passado, quando a África do Sul falhou em fornecer um visto ao Dalai Lama para que pudesse comparecer  às celebrações pelo 80º aniversário do Bispo Desmond Tutu, muitos apontaram a pressão de Pequim.

Mas o Sr. Sangay recentemente fez uma visita bem sucedida aos EUA, onde testemunhou perante uma Comissão de Direitos Humanos do Congresso (Casa de Representantes), dizendo aos legisladores: “Eu acredito que é chegada a hora de a comunidade internacional se dar conta da gravidade e urgência da situação”.

No fim deste mês ele deverá visitar a Bretanha e Europa. Ele intencionalmente não solicitou um encontro com David Cameron ou William Hague, ciente da controvérsia que tal pedido poderia criar, mas disse acreditar que o governo britânico deveria se fazer mais audível em relação aos direitos humanos no Tibete e o chamou para se manifestar a respeito das imolações. “Muito poderia ser feito”, ele disse. “Cada pronunciamento conta, cada pronunciamento mostra que estas vidas não foram perdidas em vão”.

Este texto é uma tradução livre de Bruno Arrais de Mendonça (brunoarrais@gmail.com). 

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