sábado, 5 de novembro de 2011

Culpa por imolações no Tibete deve ser atribuída à repressão chinesa

Por Lobsang Sangay, publicado em 03 de novembro.

Onze tibetanos atearam fogo aos próprios corpos no leste do Tibete desde março. Seis deles morreram. O governo chinês os descreve como “terroristas disfarçados”.

A realidade é que seus atos desesperados foram um indicativo crítico do domínio da República Popular da China sobre o Tibete ocupado. Eles chamam atenção para a luta por sobrevivência enquanto Povo com uma cultura e identidade únicas.

Os tibetanos exilados reagiram à dor e sofrimento dentro do Tibete, particularmente nas áres de Ngaba e Karze, onde a maioria das autoimolações aconteceram, com horror e ansiedade. Os monges e monjas que se auto imolaram estavam sacrificando seus corpos para chamar a atenção do mundo para a repressão chinesa no Tibete.

Aqueles que praticaram autoimolação agiram em favor do Tibete e do Povo Tibetano, e sua intenção era de não fazer mal a mais ninguém. Tal ação tão dolorosa e triste emerge de sua agonia; eles vivem num clima de medo e não possuem outros meios de se expressarem.

A liderança tibetana no exílio não encoraja as autoimolações ou protestos dentro do Tibete porque a China apenas responde a esses atos com mais repressão. Ela também culpa amplamente os que protestam. Em vez de apagarem as chamas, as autoridades chinesas bateram no primeiro praticante de autoimolação, que morreu em parte devido aos ferimentos provocados pela agressão.

Sua Santidade o Dalai Lama apelou consistentemente aos tibetanos para não recorrerem a tais atos de desespero. Em 2008, por exemplo, Sua Santidade o Dalai Lama pediu aos tibetanos que interrompessem as greves de fome que estavam fazendo em resposta às políticas repressivas chinesas.

Como líder político tibetano, eu também apelei aos tibetanos exilados para interromperem suas greves de fome até-a-morte porque precisamos deles para proteger e preservar nossa identidade cultural e nacional, e para assegurar a força de nosso movimento mundialmente.

Nós estimulamos os tibetanos dentro e fora de nossa Terra Natal que foquem na educação secular e monástica. Profissionais altamente educados e monges estudados proverão os recursos humanos e a capacidade necessários ao fortalecimento e sustento de nosso movimento.

Devemos focar na causa das recentes tragédias: a continuidade da ocupação do Tibete e as políticas chinesas de repressão política, assimilação cultura (aculturação), marginalização econômica e destruição ambiental.

A China arrisca provocar um aumento futuro dos protestos ao tornar ainda mais rígidas as medidas que levaram os tibetanos a protestar. Durante e após a revolta de 2008, o governo chinês impôs uma lei marcial não declarada ao Tibete e tomou medidas severas, principalmente nos monastérios. Seguindo a morte do monge Kirti de 20 anos, Lobsang Phuntsog, em março desse ano, as autoridades aumentaram ainda mais a repressão em Ngaba, virtualmente ocupando o monastério, banindo as cerimônias religiosas, e prendendo e torturando um número ainda desconhecido de monges. Eles até mesmo proibiram a posse de uma foto de Sua Santidade o Dalai Lama.

No exílio, nós damos apoio àqueles no Tibete que estão nas linhas de frente de proteção de sua integridade religiosa e cultural. Em 19 de outubro, organizamos um dia inteiro de orações e jejum, de acordo com nossas tradições budistas, em solidariedade àqueles que praticaram a autoimolação. É nossa responsabilidade garantir que os clamores daqueles tibetanos pela restauração da liberdade sejam ouvidos, e que seus sacrifícios não sejam em vão.

Está claro que a raiz das autoimolações repousa sobre a continuidade da ocupação do Tibete. Sua Santidade o Dalai Lama e a administração tibetana não são o problema mas a solução.

Nós solicitamos às Nações Unidades e à comunidade internacional que enviem delegações em busca da verdade ao Tibete e que vejam a situação em primeira mão. Igualmente, deveria ser permitido à mídia independente e aos intelectuais liberais chineses que tivessem acesso. A comunidade internacional precisa pressionar o governo da República Popular da China para restaurar a liberdade e solucionar a questão do Tibete através do diálogo para o benefício mútuo dos tibetanos e dos chineses.

O escritor é Kalon Tripa, ou primeiro ministro, do Tibete, líder do governo tibetano em exílio.

Tradução livre  Bruno Arrais de Mendonça.

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