Arijit Sen/Hindustan Times/Getty Images
No espaço de apenas um ano, o Tibete e seus ativistas tornaram-se conhecidos devido às auto-imolações. Até recentemente, o suicídio como protesto, que não deve ser confundido com atentados suicidas destinados a matar os outros, era tão raro no vocabulário político do ativismo tibetano que um manifestante chamado Thupten Ngodup, que ateou fogo a si mesmo, em Nova Delhi em 1998, foi imortalizado com um busto de pedra branca na cidade exílio de Dharamsala. Isso mudou de forma abrupta, com trinta e duas auto-imolações em pouco mais de um ano, em mercados, cidades e vilas remotas, e agora expandindo para Nova Delhi. No início, os manifestantes eram em sua maioria monges e monjas, alguns ainda adolescentes, que encharcaram-se em querosene e, em alguns casos, encheram também seus estômagos para maximizar a conflagração. Suas mortes permaneceram praticamente invisíveis, capturadas por pouco mais de imagens granuladas de celulares, e raramente investigadas porque a polícia impediu o acesso de jornalistas estrangeiros à área.
Mas recentemente o número de manifestantes aumentou, mais notavelmente com Jamphel Yeshi, um refugiado de 27 anos de idade, que disse a amigos ter sido torturado na China antes de fugir para a Índia. Segunda-feira passada, com o presidente chinês Hu Jintao em visita à Índia, ele ateou-se chamas e correu gritando por uma rua cheia de fotógrafos. No final do dia, morreu em um hospital, e as fotografias horríveis de seu protesto foram mostradas em todo o mundo.
Como Gillian AP Wong escreveu recentemente em uma valiosa análise, é uma das mais pesadas ondas de auto-imolações políticas na história, maior do que a onda de protestos durante a Guerra do Vietnã ou que as manifestações pró-democracia na Coreia do Sul, e superada apenas pelas centenas de estudantes na Índia que queimaram-se em oposição a uma proposta de ação afirmativa, em 1990.
Mas a coisa mais impressionante em relação aos protestos tibetanos, Wong observa, não é o grande impacto que eles tiveram, mas sim o pouco impacto que tiveram: "Quando um único vendedor de frutas na Tunísia ateou fogo a si mesmo em dezembro de 2010, foi creditado por "acender a Primavera Árabe da democracia", enquanto que as auto-imolações tibetanas até o momento falharam em conseguir as mudanças que os manifestantes exigem: um fim à interferência do governo na sua religião e o retorno do exilado Dalai Lama ".
Eu comecei a me perguntar como esses protestos são vistos no local mais importante da perspectiva de uma solução para a questão do Tibete: China. O Dalai Lama sempre acreditou que uma parcela pequena, mas crescente de chineses han interessados no lado espiritual do budismo tibetano, poderia eventualmente exercer pressão para produzir uma política chinesa mais branda nas áreas tibetanas. Quando eu o entrevistei em 2010, ele me disse que é impossível para os adeptos chineses separar a religião da dimensão política. "Se você rezar, então realmente você está envolvido!", disse.
Uma revisão da discussão na rede chinesa sobre as auto-imolações tibetanas produz uma janela não-científica, mas muito interessante sob alguns pontos de vista e sugere que talvez haja um pouco mais de simpatia do que poderíamos supor, mas ainda não o que o Dalai Lama imagina. A maioria da discussão é, não surpreendentemente, favorável à visão oficial chinesa: "Isto tudo é trabalho das forças inimigas", escreveu um comentarista no Weibo. Vozes mais serenas apontaram para o investimento chinês no Tibete e questionaram se os manifestantes teriam razão de reclamar com "todo esse dinheiro, apoio e ação afirmativa dedicada a eles," como colocou um escritor.
Mas salpicado entre as postagens, as chinesas me surpreenderam, algumas porque nos lembram o poder da censura, e outras porque mostram uma centelha de interesse e compreensão. Depois que o premiê Wen Jiabao foi questionado sobre as auto-imolações durante sua conferência de imprensa anual com a imprensa estrangeira, um comentarista de repente trouxe à tona a questão sobre o quanto a maioria dos chineses está informada sobre o Tibete: "Com toda honestidade, eu nem sabia nada sobre as imolações tibetanas até esta conferência de imprensa. É por eles terem a sensação de que sua fé religiosa foi insultada ou o quê? "Outra pessoa escreveu:" Por que é que há tantas imolações tibetanas? Como [maioria étnica] Han, eu realmente não sei como olhar isso de frente. Sinto muito". Outro comentarista reclamou que patriotas online atacam qualquer um que escreva positivamente sobre ativistas tibetanos:"Sou um ser humano em primeiro lugar e um cidadão chinês em segundo. Esses casos de auto-imolação referem-se a seres humanos que sacrificam suas vidas para lutar a última luta. Encaminhar informações para que mais pessoas prestem atenção é simplesmente uma reação de um ser humano". E, finalmente, este comentário de alguém que se auto-intitula Unangry Young Woman (jovem mulher sem raiva):
"Quantas pessoas realmente ouviram o velho monge? Não pode haver verdade em um lugar no qual o direito de falar não é distribuído de forma justa. Eu descobri que muitas pessoas não compreendem o Tibete, por isso eu digo: Vá para o Tibete ouvir o que os tibetanos têm a dizer, descobrir o que é que eles realmente querem. Devido a esta postagem, há uma chance significativa de que minha conta seja bloqueada. Mas pra mim tudo bem."
Este foi um mês crucial para a Internet na China, um teste à sua capacidade de sobreviver como fórum de idéias mais aberto. Muitas dessas mensagens foram apagadas momentos depois de serem postadas. Mas o fato mais revelador é o de que elas de algum modo existiram.
Tradução livre de Jeanne Pilli
http://www.newyorker.com/online/blogs/evanosnos/2012/04/the-view-from-china-tibetan-self-immolations.html#entry-more
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