domingo, 5 de fevereiro de 2012

"O medo em Lhasa" por Woeser

Uma despedida apressada de Lhasa
Agora uma cidade de medo

Uma despedida apressada de Lhasa
Onde agora o medo é maior que todos os medos juntos… os dos anos 59,  68 e 89

Uma despedida apressada de Lhasa
Onde o medo está em tua respiração, nas batidas do teu coração
No silêncio quando se quer falar… mas não
No nó na garganta

Uma despedida apressada de Lhasa
Onde o medo constante foi trabalhado por legiões com suas armas
Por incontáveis polícias com suas armas
Por policiais disfarçados além da conta
E pela colossal máquina do Estado que se posiciona atrás deles
Dia e noite
E não se deve apontar uma câmera porque eles te apontarão uma arma
E talvez te levem para algum lugar e ninguém saberá

Uma despedida apressada de Lhasa
Onde o medo começa em Potala e se faz mais forte ao leste, através do bairros tibetanos.
Terríveis rastros reverberam por todos os lados, mas à luz do dia nem sequer se pode ver sua sombra
Eles são como demônios invisíveis de dia, mas o horror é pior, pode te enlouquecer
Umas poucas vezes passam ao teu lado e se vê as frias armas em suas mãos

Uma despedida apressada de Lhasa
Onde o medo é agora minuciosamente escaneado pelas câmeras das avenidas, dos becos e dos escritórios
E em cada monastério e em cada templo
Todas essas câmeras, tendo tudo nelas
Girando mundo afora até olhar dentro da tua mente

“Zap, zap, je* ” … te peço, cuide-se
Eles estão nos vigiando, entre os tibetanos isto se converteu em sussurro furtivo
Uma despedida apressada de Lhasa
O medo em Lhasa parte o meu coração, preciso escrever
Tem algo que quero dizer
Vocês têm as armas… eu só tenho minha pena

* zap, zap je em tibetano significa “te peço, por favor, cuide-se”. Atualmente esta é uma das expressões mais frequentemente usadas pelos tibetanos no Tibete

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